As desigualdades na ciência devem ser abordadas a partir de perspectivas geográficas, de género e sociais. Precisamos de diversidade, capacitação, mais investimento em I&I e políticas públicas bem desenhadas, disse esta sexta-feira, dia 22 de abril, Maria da Graça Carvalho, numa palestra que deu no âmbito da Research Forum Conference 2022 da Philanthropy Europe Association, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Eurodeputada do Grupo do Partido Popular Europeu e ex-ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, Maria da Graça Carvalho começou por constatar as diferenças que existem em termos de ciência, investigação e inovação entre as várias zonas do mundo, entre países que pertencem a um mesmo bloco (como a UE) ou até mesmo entre regiões que fazem parte de um mesmo país. Assinalou as diferenças que existem, em termos de percentagem do PIB, no que toca ao investimento em ciência, investigação e inovação nos orçamentos dos vários países. Na UE. E fora dela.
"Essas diferenças têm consequências na competitividade, no desenvolvimento social e econémico e geram um círculo vicioso, pois países e regiões que investem menos em I&I atraem menos investimento estrangeiro e estão mais expostos à fuga de cérebros".
As soluções para esse desequilíbrio, indicou, poderão ser divididas em três linhas de ação:
• Maior capacitação, da educação à capacitação institucional;
• Maior investimento em I&I, principalmente através de bolsas de estudo (MSC, PHD, POS-DOC,) infraestruturas de investigação e equipamentos científicos;
• Maior capacidade para produzir políticas públicas bem desenhadas, que acelerem o caminho para a excelência. Por exemplo, mecanismos que promovam a cooperação entre regiões que se encontrem em diferentes graus de desenvolvimento.
Como relatora, pelo Parlamento Europeu, de iniciativas como a agenda estratégica do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT) ou das parcerias estratégicas do Horizonte Europa, a eurodeputada do PSD tem sempre defendido uma distribuição mais equilibrada dos fundos europeus, com o argumento principal de que a Europa deve promover a excelência onde quer que ela se encontre e não apenas nas regiões mais ricas de alguns países.
No que toca à questão de género, Maria da Graça Carvalho constatou que, nas últimas décadas, o número de mulheres nas áreas Ciência e das STEM aumentou. Porém, ainda não de forma suficiente. A eurodeputada deu conta do trabalho que desenvolveu sobre esta problemática no relatório "Colmatar o fosso digital entre homens e mulheres: participação das mulheres na economia digital". E enumerou algumas das soluções nele contidas:
• ter uma abordagem pró-activa para envolver as raparigas nestas áreas, desde tenra idade;
• fomentar modelos de comportamento, especialmente envolvendo mulheres com carreiras de sucesso neste campo, mas também envolvendo os media no combate aos estereótipos sobre o papel da mulher no digital;
• exigir ainda que haja uma nova postura das instituições de ensino e empregadores neste campo.
No que respeita à terceira dimensão apresentada por Maria da Graça Carvalho, a dimensão social, a eurodeputada, que é membro das Comissões da Indústria, do Mercado Interno, da Igualdade de Géneros, da Inteligência Artificial e das Pescas no Parlamento Europeu, afirmou: "Em todos os temas que abordei [nesta palestra] – as frentes regional e local, a cooperação internacional e igualdade de género – a educação desempenha um papel decisivo. Como disse no início, a única forma de garantir o acesso universal à ciência e a todos os seus benefícios é através do investimento em conhecimento".
O acesso à ciência, notou, começa com o acesso à educação. "No entanto, como sabemos, o sucesso na educação é profundamente influenciado pela situação socioeconómica dos pais, principalmente das mães. Portanto, há também uma dimensão social que precisa de ser abordada para combater as desigualdades na ciência. São necessárias políticas pró-activas", disse Maria da Graça Carvalho, sublinhando a necessidade de garantir o recrutamento de alunos de grupos sub-representados e dando alguns exemplos de programas que, nalguns países, já têm essa preocupação em concreto.
"Isto é algo que deve ser feito desde cedo. E ao longo das nossas vidas. A aprendizagem ao longo da vida, numa altura em que os empregos para toda a vida se tornam cada vez mais raros, é essencial. Todos nós precisamos melhorar as nossas competências, especialmente as digitais e as chamadas soft skills. A nossa curiosidade, a nossa procura constante pelo conhecimento, trouxe-nos ao nível de desenvolvimento social e económico que hoje desfrutamos. E o conhecimento é a melhor ferramenta que temos para seguir em frente e corrigir os erros que cometemos ao longo do caminho", sublinhou a eurodeputada~, no final da sua muito aplaudida intervenção na Gulbenkian.