Maria da Graça Carvalho, eurodeputada do PPE, participou esta quarta-feira, dia 14 de julho, no COTEC Innovation Summit, numa conversa moderada por Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC Portugal, subordinada ao tema "European Ecosystems and Recovery: Taking Stock from European Industrial Policy Update" (Ecossistemas europeus e recuperação: avaliando a partir da atualização da política industrial europeia).
Na sua intervenção, a eurodeputada teceu os seus comentários à Estratégia Industrial Revista, recentemente apresentada pela Comissão Europeia, a qual prevê, por exemplo, um Mecanismo de Emergência para o Mercado Único. A estratégia apresentada, sublinhou, faz uma revisão dos 14 ecossistemas e faz referência à dupla transição, digtal e verde, pela qual a indústria vai passar nos próximos anos.
"Os ecossistemas têm vantagem nestas alturas de crise, porque identificam os setores que mais têm necessidades e isso depois serve de orientação para os Estados membros, nas recomendações do que devem ser as prioridades dos Planos de Resiliência e Recuperação (PRR). Estas orientações da Comissão Europeia são importantes. Dou o exemplo do setor cultural e criativo, que até há pouco tempo não era considerado um setor industrial, mas foi, após muita pressão do Parlamento Europeu. No caso português, em que este setor não era uma prioridade do PRR, houve pressão do setor e de comentadores da área para isso fosse alterado. Agora, em situações que não sejam de crise, no PPE nós criticamos este método dos ecossistemas", afirmou a ex-ministra da Cultura, Inovação e Ensino Superior, que é vice-coordenadora do PPE na Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia (ITRE).
E porquê essa crítica? "Porque está-se a dar prioridade a umas coisas e não a outras. E, por isso, nós queríamos que estes 14 ecossistemas verticais, fossem complementados por ecossistemas horizontais, ecosistemas que fomentem as condições de inovação. No futuro, o mais importante é ter um grande ecossistema de inovação, para que não seja necessário ter que escolher setores. Devemos criar condições para que os setores se desenvolvam, sejam competitivos e não ter o poder político a intervir no mercado. Esperamos que, em breve, não tenhamos de escolher setores e possamos ter um setor horizontal forte, com grande investimento em ciência e inovação, para que a indústria seja competitiva, sem precisar de se esolher setor a setor. Percebemos que há setores que, nesta fase de crise, precisavam de apoio, como o da aviação, mas esperamos que não se fique aí", sublinhou a deputada, que é também relatora do Parlamento Europeu para a nova geração de parcerias do Horizonte Europa, programa-quadro de investigação e inovação da União Europeia.
As parcerias do Horizonte Europa são importantíssimas, frisou Maria da Graça Carvalho. "Devemos aumentar a colaboração entre as empresas e as universidades", afirmou, sublinhando a necessidade de estas parcerias serem mais abertas, com menos burocracia, maior diversidade geográfica e de género, para que possa ser mais simples a participação nas mesmas. "Há uma grande tendência para que este tipo de projetos [parcerias público-privadas] sejam os que cada vez mais vão obter os financiamentos europeus. Vamos esperar que, durante o Horizonte Europa, Portugal tenha uma maior participação nestas parcerias", declarou. Estas parcerias podem ser então a rede que liga o ecossistema da inovação ao ecossistema industrial, afirmou Jorge Portugal, que questionou em seguida a eurodeputada sobre a falta de capacidade de produção da Europa, para conseguir explorar os resultados do conhecimento e investigação que financia. Como pode a UE ser bem sucedida na exploração comercial do seu próprio conhecimento?
"Há um problema de scale-up, que tem que ver com financiamentos. O outro tipo de barreiras a este scale-up é o tal ecossistema de inovação, que é muito débil nalguns Estados membros, com muita burocracia, um Mercado Único muito fragmentado. É preciso ter uma economia muito mais ágil, flexível, para que os produtos desenvolvidos na Europa possam ser aqui comercializados. Isto a nível do sistema. Agora, a nível das empresas, há um conjunto de instrumentos que devem ser pensados em conjunto, como por exemplo toda a parte da investigação, dos projetos-piloto. Há um grande número de programas na UE [Horizonte Europa, PRR etc...] e devem ser usados nessas sinergias. É preciso ver os fundos que há para cada fase e pensar tudo muito bem, nos projetos, logo desde o início", conclui Maria da Graça Carvalho.