Tendo em vista que as eleições gerais convocadas no país para 7 de Novembro violam os princípios democráticos e não permitem a realização de eleições livres, que Aung San Suu Kyi continua sob prisão domiciliaria, que 25% dos assentos na câmara baixa já estão reservados para os militares e que cidadãos casados com estrangeiros não podem ser candidatos, a conferencia "Rumo à Paz e à Democracia na Birmânia", que teve lugar ontem no Parlamento Europeu, foi uma tentativa de contribuir para que a este país celebre umas eleições democráticas e liberte os presos políticos.
Para Maria da Graça Carvalho, co-Presidente da Comissão do Desenvolvimento Económico, Finanças e Comércio da Assembleia Parlamentar Paritária África - Caraíbas e Pacífico -UE e organizadora do evento, o mais importante agora é "apelar à UE para que tome uma posição contundente sobre a situação na Birmânia; reafirmar o compromisso do PE com a Birmânia; instar o Governo desse país a assegurar eleições livres; exortar o Governo a libertar os presos políticos e a iniciar um diálogo com todos os partidos e grupos étnicos e também apelar aos governos da Rússia, Índia e China para pressionarem o governo da Birmânia" (Intervenção completa de Maria da Graça Carvalho).
Já o Presidente José Ramos-Horta, orador principal da conferência, manifestou a sua posição em relação às sanções explicando que "as sanções económicas prejudicam o povo que já é vítima do regime". Durante a sua intervenção, apelou as ONGs para que continuassem no país e desafiou as empresas multinacionais a "entrarem e estabelecerem-se na Birmânia, o que conduziria à criação de emprego fora do âmbito militar". O Prémio Nobel da Paz considera que as decisões a ser tomadas em relação ao desenvolvimento do país após as eleições têm de ser "tácticas e com o objectivo de criarem desenvolvimento" e neste âmbito instou o diálogo entre a UE e o Governo a um alto nível.
Gunnar Stålsett, Bispo emérito da Igreja da Noruega, reivindica o papel de Aung San Suu Kyi, "como símbolo da resistência contra a repressão existente no pais".
Léon de Riedmatten, Director da Associação Fairness International - AFI, destacou os conflitos étnicos na Birmânia, e instou a uma abertura de diálogo entre os militares e os grupos étnicos, que até agora qualificou de "inexistente". A terminar alertou que o boicote das eleições por parte do partido da oposição pode levar a que Birmânia se transforme "numa dinastia à semelhança da Korea do Norte".
Thierry Falise, da Associação Fairness International - AFI, acredita que em relação aos conflitos étnicos a solução passaria pela criação de um estado federal com a inclusão do dialogo tripartido entre regime, partidos da oposição e grupos étnicos.
Ma Nilar Oo, que reside na Birmânia e trabalha na Cruz Vermelha, manifestou que o pais está dividido, em relação às eleições, entre os que têm esperança em que as eleições representem uma mudança social e económica; e os que estão preocupados com os problemas do dia a dia e não acreditam que as eleições tragam alguma mudança. Já em relação aos problemas económicos do país explicou que o governo não procura ajuda internacional e que está florescer um novo estrato social de homens de negócios que cumulam riqueza. Também chamou a atenção da Comunidade Internacional para a importância da educação e da capacitação.
Harn Yawnghwe, Director Executivo do escritório Euro-Birmânia (EBO), também acredita que a estratégia do partido LND de boicotar as eleições é errada e salienta que os grupos étnicos vão participar para tentar obter uma representação. Apelou à UE para que envide todos os esforços para ajudar a evitar uma confrontação militar.