As últimas semanas trouxeram algumas notícias positivas no que respeita à batalha contra o coronavírus. Primeiro, a comissária europeia com o pelouro da Investigação, Mariya Gabriel, anunciou a criação de uma “parceria” dedicada à investigação contra o coronavírus e eventuais futuras pandemias, no âmbito do próximo programa-quadro Horizonte Europa. Depois, a presidente da Comissão, von der Leyen, revelou que a União Europeia se irá associar à iniciativa para recolher 7,5 mil milhões de euros, destinados à resposta global à pandemia. Uma iniciativa que já incluía instituições como a Bill and Melinda Gates Foundation, o Banco Mundial e a Organização Mundial de Saúde.
No caso do primeiro projeto, há muito que era evidente a necessidade de a União assumir uma atitude mais ambiciosa, quer do ponto de vista financeiro quer ao nível da articulação do esforço coletivo para o desenvolvimento de uma vacina e de tratamentos. A criação de uma estrutura capaz de assumir esse papel foi, de resto, uma das propostas apresentadas pelo Grupo Europeu do PSD, no documento: “Mais Europa – Respostas à Crise da Covid-19”, divulgado em abril.
Na nossa proposta falávamos de uma missão, com características semelhantes à Missão do Cancro já prevista para o Horizonte Europa. A “parceria” agora revelada cumpre a mesma finalidade e, segundo deu a entender a comissária, deverá vir acompanhada de um necessário reforço das verbas globais para o programa-quadro dedicado à Ciência e Inovação.
Considerando que, apenas há uns meses, vários estados-membros defendiam cortes significativos nos valores propostos para a Ciência pelo Parlamento Europeu e pela Comissão Europeia, o facto de Mariya Gabriel ter a confiança de fazer este anúncio não deixa de ser indicativo de uma nova atitude, mais solidária, entre os países da União Europeia. Só é de lamentar o tempo perdido até que se tornasse óbvio o que já saltava à vista.
A globalização deste combate, também defendida no documento do PSD, é outro passo fundamental. Se a pandemia de coronavírus é um problema mundial, afetando 220 países e territórios, faz algum sentido que os esforços para a vencer não sejam partilhados? Com os recursos e os melhores investigadores do planeta coordenados num esforço comum, seguramente ganharemos a guerra mais rapidamente e com menos vidas perdidas ou destruídas.
O desenvolvimento de uma vacina tem de ser a prioridade número um. Recentemente tem-se debatido muito o alívio das medidas de confinamento e a “reabertura” da economia e da sociedade, até em países onde os novos contágios e baixas continuam elevados ou estão mesmo em ascensão. E é perfeitamente compreensível que muitos líderes políticos, muitos cidadãos cujos negócios ou atividades dependem do regresso à normalidade, anseiem pelo rápido alívio das restrições atualmente existentes, porque as perdas são de facto muito pesadas e insustentáveis no médio prazo.
Mas é preciso moderar essas expectativas. Enquanto não tivermos uma forma de neutralizar a causa desta crise, o vírus SARS-COV2, os momentos de recuperação poderão sempre ser passageiros, e eventuais novas vagas terão consequências pesadas na saúde e na economia.
Olivier Blanchard, antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, insuspeito de desvalorizar o impacto económico das atuais medidas de saúde pública, fez esse mesmo alerta na passada terça-feira, num webinar promovido pelo Partido Popular Europeu. Nas suas palavras, a prioridade número um para vencer esta crise tem de ser “investir em Saúde e em investigação científica na área da Saúde”. É uma questão de números, acrescentou: “Todo o investimento será pequeno quando comparado com os custos que estamos agora a suportar”.