Não seremos um lóbi da Indústria no parlamento Europeu.
Há alguns dias, a propósito da constituição do Intergrupo “Sustainable, long-term Investments & Competitive European Industry”, no Parlamento Europeu, um jornalista estrangeiro contava-me que muitas pessoas têm dúvidas de que a União Europeia deva ajudar a indústria a fazer a transição ambiental imposta pelo European Green Deal.
Defendem essas pessoas, lembrou, que a indústria, em particular aquela cuja atividade é por natureza mais poluente ou consumidora intensiva de energia, tinha consciência há várias décadas dos impactos negativos que causava, e que em muitos casos pouco ou nada fez para adequar as suas práticas.
Da minha perspetiva, esta é uma visão incompleta da história. E é sobretudo uma visão que, a concretizar-se numa abordagem política deste setor, jamais poderá conduzir-nos ao que todos ambicionamos: o cumprimento dos Acordos de Paris, até 2030 – dentro de menos de uma década – e a descarbonização total da economia europeia até 2050. Na realidade, essa postura só levaria à criação de novos problemas, como falências e desemprego.
De um ponto de vista histórico, não podemos ignorar o papel deste setor na construção da sociedade moderna. A revolução industrial está entre as grandes contribuições da Europa para o mundo. Mudou fundamentalmente a maneira como vivemos, tirando inúmeros milhões da pobreza e abrindo caminho para enormes ganhos na educação, saúde, ciência, cultura, bem-estar, mobilidade e qualidade de vida em geral.
Atualmente, além dos padrões de vida que continua a fornecer à população em geral, a Indústria Europeia é direta ou indiretamente responsável por mais de cinquenta milhões de empregos. Ainda é um exemplo para o mundo em termos de qualidade, inovação e sustentabilidade. Ainda é, de acordo com o Eurostat, o maior empregador e o maior contribuinte para o PIB geral da União Europeia. Tudo isto, tendo sobrevivido à crise económica da década passada e à crescente concorrência vinda de outras potências, algumas delas infinitamente menos empenhadas com as questões ambientais.
Nada disto, como é óbvio, serve para desculpabilizar os erros que foram cometidos, muito menos para aligeirar o grau de exigência sobre o setor. Os compromissos estabelecidos são para cumprir. O European Green Deal é para concretizar. No entanto, talvez sirva para que tenhamos consciência de que estes são desígnios coletivos e que apenas juntos os conseguiremos alcançar. Sobretudo quando há outros desafios relevantes no horizonte, como a digitalização e a referida concorrência externa.
O novo Intergrupo – do qual sou copresidente, a par de Simona Bonafè e Dominique Riquet, numa liderança onde estão representados os três maiores grupos políticos no Parlamento Europeu – foi criado precisamente com o intuito de ajudar a juntar todas as partes num fórum formal, embora sem a estrutura vertical das comissões parlamentares, onde possam discutir os problemas e procurar as soluções em conjunto.
Não seremos um lóbi da Indústria no parlamento Europeu. Teremos membros do setor financeiros e industrial. Teremos decisores políticos, tanto a nível europeu como nacional. Teremos organizações não-governamentais e movimentos de cidadãos. Queremos assegurar que as normas, os apoios e incentivos específicos, os projetos inovadores, sejam discutidos e avaliados antes de serem adotados. Para que, quando isso suceda, tenhamos resultados. Para que não existam desculpas para não cumprir.
O forte interesse que as principais associações da indústria europeia têm revelado por este Intergrupo, com vários pedidos de adesão em curso, é a meu ver uma excelente notícia: prova que os compromissos que assumimos estão a ser levados a sério por todos.