Rui Rio saiu das eleições legislativas deste domingo com a mesma frontalidade e honestidade intelectual com que esteve em todas as batalhas, externas e internas, ao longo dos últimos anos. É fácil, a posteriori, aparecer quem venha confundir essa determinação com obstinação e intransigência. Para mim, foi fiel a si próprio e aos princípios e valores do partido que representa.
No final do dia, o PSD ficou longe dos objetivos que tinha traçado e que, a determinada altura, pareceram alcançáveis. Mas esse facto não retira valor a um programa eleitoral preparado ao longo de quatro anos, ouvindo os diversos setores da sociedade, com uma agenda ambiciosa e coerente para fazer crescer a economia, valorizar carreiras e habilitações, dar competitividade às nossas empresas, melhorar as respostas em setores como a saúde, a educação, o ensino superior, a ciência e a cultura e promover a coesão social e territorial.
Um programa refletindo a natureza de um partido da social-democracia, progressista, mas comprometido com as pessoas e com a economia. Um programa que, estou certa, iria ajudar a fazer de Portugal um país melhor. E que não passou a estar errado só porque a mensagem não chegou aos destinatários com a força e a clareza que esperávamos que tivesse.
Rui Rio já deixou aberto o caminho para a sua eventual sucessão na liderança. Mas na minha opinião é importante que o PSD, na reflexão que necessariamente fará, não se limite a olhar para dentro em busca de antídotos para esta derrota eleitoral. Porque há um contexto externo que tem de ser compreendido para que Portugal possa voltar no futuro próximo a ter um governo de centro-direita.
É preciso, desde logo, que se assuma que atualmente os obstáculos a esse objetivo já não estão apenas à nossa esquerda, mas também à direita, sob a forma de um partido populista que, como é habitual nessa linha política, tem vindo a ganhar votos capitalizando, com soundbites vazios, descontentamentos reais de muitos cidadãos. Descontentamentos que é preciso entender e aos quais devem ser dadas respostas.
O Chega não é solução nem alternativa. Muitos dos seus eleitores sabem-no, votando mais para marcar uma posição do que por verdadeira crença na sua mensagem. E seguramente a esmagadora maioria dos portugueses o sabe. Houve voto de protesto à direita nestas eleições, mas também houve mobilização, ao centro e à esquerda, contra o fantasma do Chega. Um fantasma habilmente alimentado pelo PS, sugerindo imaginários cenários de entendimento do PSD com este partido, apesar da clareza do discurso de Rui Rio a esse respeito.
Não deixa de ser irónico constatar que, no final de contas, o único beneficiário prático da ascensão eleitoral do Chega, além do próprio, tenha sido o PS. Mas não vale a pena alimentar mais este jogo de sombras.
O PSD, um dos partidos fundadores da nossa democracia, não precisa de se defender de efabulações. Cabe-lhe, isso sim, reafirmar pelas suas ações em todos os centros de decisão onde está representado - regiões autónomas, autarquias locais, Assembleia da República, Parlamento Europeu -, aquele que é o seu ADN.
Um partido dos estudantes, dos trabalhadores por conta de outrem, dos desempregados, pensionistas, funcionários públicos, artistas, cientistas e empresários. Um partido que não hostiliza credos, minorias ou etnias, nem inventa bodes expiatórios. Um partido do Litoral e do Interior, do Norte e do Sul, do Continente e Ilhas, de todos e para todos os portugueses e portuguesas.
Será percorrendo esse caminho, exigente e sem atalhos, mas um caminho da verdade, que voltaremos a ocupar o lugar que nascemos para assumir.