As hesitações e controvérsias que têm marcado o lançamento do leilão das frequências de 5G em Portugal são uma má notícia para o país. A tecnologia de quinta geração é muito mais do que um mero upgrade, uma cíclica melhoria das velocidades de tráfego e de download nas redes móveis. O que está em causa, para que não restem dúvidas, é um verdadeiro "salto quântico" tecnológico, que constitui uma componente imprescindível da revolução digital que o mundo está a atravessar. E na qual não podemos de forma alguma arriscar perder o comboio.
Precisamos do 5G para responder ao crescimento exponencial do número de utilizadores da internet móvel. E estes certamente irão retirar benefícios de uma tecnologia que elevará radicalmente os desempenhos das suas ligações à rede. Afinal, estamos a falar de velocidades até dez vezes superiores ao 4G LTE - o atual "estado da arte" tecnológico.
Mas as implicações são muito mais profundas. Só com as capacidades desta nova tecnologia será possível concretizar em pleno o desenvolvimento da chamada Internet das Coisas: a progressiva integração de dispositivos ligados à rede, das atuais SmartTV aos futuros automóveis sem condutor e cidades digitais. Uma revolução que não se limitará a trazer mais comodidades aos consumidores. Terá um efeito transformador na forma como as empresas, as indústrias e os serviços públicos irão funcionar no futuro.
A nova rede tem igualmente o potencial para se tornar num aliado do desenvolvimento das regiões do Interior. Com acesso a Internet de alta qualidade em virtualmente qualquer local, e numa altura em que a economia digital atravessa um período de intenso crescimento, não há motivo para que mais empresas e até trabalhadores por conta própria não decidam deslocalizar as suas atividades dos grandes centros urbanos, aproveitando os custos inferiores e as melhorias de qualidade de vida que podem encontrar nas zonas rurais.
O 4G baseia-se na fibra ótica, que tem de ser transportada aos diferentes pontos de território e depois instalada pelas operadoras em cada residência, empresa ou instituição. Uma tecnologia que, mesmo em final de ciclo, ainda não chegou a todos os pontos do país. A futura rede será suportada por torres emissoras, sem necessidade à partida de mais instalações domésticas. No entanto, estas terão de ser também construídas, implicando que sejam encontrados os parceiros certos e feito um investimento inicial considerável.
Estes aspetos parecem não ter sido suficientemente ponderados pela Autoridade Nacional das Comunicações nas regras propostas para o leilão do 5G. A intenção de abrir o leilão a novos operadores, a empresas de menor dimensão, parece positiva. Mas os termos em que isso está a ser feito estão a ser encarados como discriminatórios pelas grandes operadoras, que inclusivamente já ameaçaram recorrer aos tribunais. E sem estas, dificilmente teremos a escala necessária para fazer o 5G descolar.