Ao preparar um evento do Instituto Sá Carneiro realizado nesta terça-feira, cujo tema era "a diversificação da economia do Algarve", constatei mais uma vez como, na realidade, os problemas e desafios identificados para a região não eram tão diferentes daqueles com os quais se depara o país como um todo.
Olhamos para o Algarve e reconhecemos uma excessiva dependência económica da atividade turística, em particular da hotelaria, e de serviços como a restauração. Mas esta não é uma especificidade algarvia e sim, em larga medida, uma característica da realidade nacional.
As pequenas e médias empresas foram particularmente afetadas a nível europeu pela crise da covid-19. E em Portugal, como já o escrevi recentemente, têm um peso particularmente relevante na economia, representando 99,3% das empresas. Quando olhamos para os setores de atividade em que se inserem, percebemos porque estamos a sofrer mais com esta crise do que outros países europeus.
Antes da pandemia - porque a realidade atual já será diferente, por motivos negativos - mais de 25% das PME nacionais pertenciam ao setor do comércio por grosso e a retalho ou ao alojamento, restauração e similares. Se lhes juntarmos muitas PME dos setores cultural e criativo, dependentes de eventos que nos últimos meses pura e simplesmente não existiram, torna-se evidente que estamos a sofrer as consequências da falta de diversidade da nossa atividade económica. Sobretudo nas regiões do país onde existem menos alternativas.
Não se trata de questionar a existência destes setores. Pelo contrário - devemos-lhes muito, pelo contributo inestimável que dão ao país ao nível da criação de emprego e de riqueza. Temos, sim, de protegê-los a todo o custo. E é particularmente incompreensível a falta de atenção que o governo tem dado às indústrias cultural e criativa.
Mas temos também de diversificar. Fazendo uma alegoria à época da Páscoa que se aproxima, temos de multiplicar os cestos onde guardamos os nossos ovos. Não apenas para que a ausência de uns seja compensada pelos outros, mas que, de uma forma geral, consigamos ser mais prósperos e mais coesos.
Isso não se consegue por decreto, mas com medidas concretas, destinadas a que o país - e não apenas as cidades mais ricas do litoral e alguns nichos industrializados - seja capaz de atrair empreendedores, nacionais e estrangeiros, com projetos criadores de emprego e riqueza, aproveitando as mais-valias que as diferentes regiões têm para oferecer.
Projetos envolvendo fontes de energia renováveis e outros recursos naturais. Projetos em torno da agricultura biológica, cuja procura tem sido crescente a nível mundial, à medida que os cidadãos se vão tornando ambientalmente mais conscientes e mais preocupados com o que consomem. E muitas outras atividades, nomeadamente de profissionais que poderiam deslocalizar-se para estas regiões, aproveitando as facilidades do trabalho à distância, atraídos por características como o clima, a envolvente, a segurança, e as rendas competitivas.
Isso consegue-se promovendo a coesão territorial, assegurando condições mínimas de acesso à educação, à saúde, aos transportes, às tecnologias digitais e a outros serviços básicos em todas as regiões. Em suma: criando meios para atrair e fixar atividades e cidadãos. Consegue-se através da aposta na ciência e na inovação, em incentivos fiscais a atividades inovadoras e à deslocalização das mesmas para fora dos grandes centros urbanos. Este é o debate que Portugal deveria estar agora a fazer.