O arranque desta década não tem sido fácil e 2022 foi mais um ano que não recordaremos com particular saudade. Houve um progresso de grande relevância: o virar de página na pandemia de covid-19, doença que nos continua a exigir muita atenção, mas que já sentimos ter controlada. E, na Europa, temos motivos para estarmos satisfeitos com os esforços, conjuntos e ao nível de cada estado-membro, que foram feitos para que se chegasse ao ponto atual. Mas é também verdade que não tivemos tempo para grandes celebrações porque, entretanto, deu-se a invasão da Ucrânia pela Rússia.
A guerra teve consequências dramáticas para o povo ucraniano, o qual temos procurado apoiar de todas as formas possíveis - humanitária, económica e militar -, mas também foi sentida pelo resto do mundo, e em especial pela Europa, confrontada com uma espiral da inflação alimentada pelos preços da energia.
Mais uma vez, parece-me justo dizer que a reação europeia tem sido globalmente correta. Tanto na resposta ao agressor russo, através de sucessivos pacotes de sanções históricas, como na busca de soluções para as consequências económicas e sociais da crise. Em particular, através da adoção de um conjunto abrangente de medidas, já implementadas ou em vias de o serem, para mitigar as consequências da espiral de preços junto dos consumidores e empresas, diversificar as nossas fontes e cadeias de abastecimento de energia, impor alguma ordem no mercado da eletricidade e reforçar a capacidade negocial da Europa, através de projetos como a compra conjunta de gás e a consolidação do Mercado Único.
É claro que encontraremos sempre aspetos onde poderíamos ter sido mais ambiciosos e incisivos a nível europeu. Eu própria tenho vindo a chamar a atenção para vários ao longo do ano. Mas, no geral, a forma como a União Europeia geriu estas duas crises sucessivas, que se chegaram a sobrepor, não nos envergonhou, nem nos deu motivos - antes pelo contrário - para questionarmos o nosso projeto conjunto.
Por isso mesmo, foi um duro golpe o escândalo que surgiu no final do ano, envolvendo suspeitas de corrupção de uma vice-presidente do Parlamento Europeu e de outras personalidades. É um caso que, tudo o indica, terá envolvido uma ínfima parcela de uma instituição com mais de 700 deputados e largos milhares de assistentes e funcionários. Mas que deve ser abordado internamente de forma decidida, motivando as reformas necessárias para que não se repita. E tem sido essa a postura da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.
Muito diferente, para pior, é infelizmente o balanço do ano em Portugal. Retirando a boa gestão do processo de vacinação, praticamente não encontramos motivos para celebrar. E as difíceis circunstâncias internacionais não servem de desculpa porque, no plano interno, existiam condições objetivas para se fazer muito melhor.
O Partido Socialista alcançou, no final de janeiro, uma maioria absoluta que lhe garantia toda a estabilidade pedida pelo primeiro-ministro durante a campanha eleitoral das Legislativas. Mas o que se viu (e o que se tem visto), desde então, é uma constante "dança das cadeiras", motivada por sucessivos escândalos envolvendo escolhas questionáveis para as equipas ministeriais, acompanhada de uma inação na resposta aos problemas do país.
O governo, tendo em mãos a maior injeção de fundos europeus da história, não soube transformar essa oportunidade em investimento real no futuro. Tanto na esfera pública, onde as dificuldades no Serviço Nacional de Saúde, na Educação, no funcionamento dos tribunais e dos serviços em geral, só se têm vindo a acentuar, como na esfera privada, investindo quase nada na modernização das empresas e, em particular, da indústria nacional.
Igualmente quase nada foi feito para criar condições para manter os jovens qualificados no país, apesar de o governo parecer estar convencido do contrário.
O meu voto para 2023 é que se retirem as devidas ilações e que se arrepie caminho, porque o país não aguentará mais quatro anos disto.
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