Valor que Portugal recebe da Europa para desenvolver projectos científicos é menor do que o que algumas universidades britânicas absorvem.
Artigo da jornalista Irina Marcelino aqui.
Portugal está a contribuir mais do que recebe dos fundos do programa europeu para a ciência e inovação. Na conferência do Diário Económico sobre indústria farmacêutica, que decorreu ontem no Hotel Ritz, em Lisboa, a deputada portuguesa ao Parlamento Europeu, Maria da Graça Carvalho, revelou que "para reavermos o nosso financiamento devíamos ter ido buscar 450 milhões de euros mas só fomos buscar 300 milhões [entre 2007 e 2011]. Ou seja, Portugal está a ser contribuinte líquido de países como a Holanda, a Bélgica, a Dinamarca, a Finlândia, a Suécia e o Reino Unido. São os países que vão buscar mais financiamento do que pagam". E exemplifica com a Suíça que, apesar de não pertencer à União Europeia, "vai buscar cinco vezes mais do que paga". A área de ciência portuguesa recebe anualmente 50 milhões de euros do programa quadro. Um valor que é ultrapassado por muitas instituições europeias. É o caso do Imperial College, uma universidade britânica. "E não é a que recebe mais", disse.
Na apresentação integrada no painel "Pensar a Investigação na Europa num Mundo em Mudança - Horizonte 2020", Maria da Graça Carvalho revelou que o valor médio de financiamento por proposta aprovada em Portugal é cerca de 4% inferior à média de outros países. Tal poderá dever-se ao facto de concorrer "principalmente com projectos de menor dimensão, quando a tendência europeia é de apostar em grandes projectos, porque baixam custos administrativos". "Portugal tem dificuldade em entrar em projectos grandes", considera, afirmando que "os projectos em consórcio na saúde serão os que mais financiamento terão no programa quadro". Comentando esta dificuldade de acesso dos projectos portugueses aos financiamentos europeus, Maria do Carmo Fonseca, investigadora e directora executiva do Instituto de Medicina Molecular, afirmou que Portugal está a ter um desempenho "mau" em termos da "capacidade para competir em concursos abertos e isto tem que ver com o enquadramento". A investigadora considera que "estamos a competir numa corrida em que não estamos no mesmo nível dos outros. Não se faz investigação de ponta sem se ter acesso a equipamentos de ponta", exemplificou. Uma das possibilidades para colmatar esta falha das duas velocidades de projectos na Europa será "usar mais fundos estruturais", defende.
Bom número de investigadores
Apesar da dimensão dos seus projectos ser pequena, Portugal está entre os países que mais cresceram no número de investigado res.O peso do número de investigadores por população activa em Portugal está acima da média europeia a 15 e muito acima da Europa a 27. O País terá mesmo mais investigadores por população activa que a Alemanha, a Itália ou a Holanda. No total, e de acordo com dados de 2010 que incluem professores de ensino superior e mestrandos, existem em Portugal mais de 45.900 investigadores. Já no sector privado, este número será bem menor: cerca de 10 mil. "Temos um número grande de investigadores de grande excelência mas poucos estão no sector privado. Ficam no público ou vão para o estrangeiro. Temos muito poucos que vão para o sector privado ajudar a economia. E esta é a principal debilidade.
Também o número de artigos científicos de qualidade tem crescido. Nos últimos cinco anos subiram 64%, o que resulta do investimento feito e do número de investigadores de qualidade.
DUAS PERGUNTAS A... Maria da Graça Carvalho, Deputada ao Parlamento Europeu e relatora do programa Horizonte 2020.
"Grande desafio é transferir conhecimento para as empresas"
Muitos investigadores portugueses trabalham em projectos europeus.
- A investigação que está a ser realizada em Portugal é dirigida para o Mundo?
- A investigação que está a ser realizada em Portugal é naturalmente dirigida para o Mundo. Prova disso são o número de publicações em revistas científicas de alto impacto e a participação de equipas portuguesas em projectos internacionais de alto reconhecimento, como os do 'European Research Council'. No entanto, o grande desafio em Portugal é transferir o conhecimento desenvolvido para o tecido empresarial. No nosso país a maioria dos investigadores trabalha no sector público e a participação de empresas em projectos de I&D é baixa na maioria dos sectores. Muitos investigadores.portugueses trabalham em projectos europeus, ' em consórcios com empresas de outros países, contribuindo para a sua competitividade. Na maioria dos países existe uma forte correlação entre o investimento em I&D e o PIB, no entanto pelas razoes mencionadas esta tendência não se verifica no nosso país.
- Quais serão os passos para reforçar a estratégia de internacionalização da investigação produzida pelas universidades e indústria nacionais?
- As universidades, centros de investigação e empresas nacionais devem procurar participar em redes internacionais já estabelecidas e trabalhar em projectos de cooperação com outras entidades. Os Programas Europeus (7º Programa-Quadro e CIP), a ESA e o CERN são portas de entrada para estas redes. 0 futuro Horizonte 2020, sucessor do 7º Programa-Quadro de I&D, a iniciar em 2014, tem previstas medidas de simplificação das regras de acesso e acções específicas para facilitar a participação de instituições de pequena dimensão, nomeadamente PME. Como relatora do Horizonte 2020 no Parlamento Europeu tive a preocupação de introduzir o conceito "Caminho para a Excelência". É essencial que a "excelência" continue a ser o principal critério para a avaliação de projectos. Mas temos que garantir que as pequenas equipas de investigação, tanto em universidades como empresas, que sejam "excelentes" também tenham acesso a estas redes internacionais de grande dimensão.