Imprensa Novo Bauhaus Europeu quer ser "novo movimento cultural" que traz "esperança"

Notícias | 19-11-2021 in Smart Cities

Delivering transformation – the New European Bauhaus foi o título de uma das conferências em destaque nesta quarta-feira, no decorrer do Portugal Smart Cities Summit, no Parque das Nações, que terminou ontem. Nesta sessão, foram exploradas diferentes dimensões deste movimento europeu na sua mais recente forma, no qual as cidades têm um papel de liderança a cumprir, sublinhou a comissária europeia da Política de Coesão e Reformas, Elisa Ferreira.

“Estamos à beira da revolução”, exclamou Elisa Ferreira, na mensagem gravada. Uma revolução que implica “mudar a forma como produzimos, como consumimos, como organizamos os nossos transportes, como aquecemos as nossas casas, em suma, a forma como vivemos”, continuou. Por esse motivo, explicou, Novo Bauhaus Europeu procurou introduzir “uma dimensão cultural e criativa no Pacto Ecológico Europeu” e, no fundo, uma ideia de “esperança”. A mensagem da comissária marcou o início de um painel do Portugal Smart Cities Summit dedicado ao Novo Bauhaus Europeu e moderado pela eurodeputada Maria da Graça Carvalho e pela reitora da Universidade de Évora, Ana Freitas.

Por se tratar de um conceito “holístico”, que “integra arte, arquitectura e tecnologias emergentes e novas tecnologias digitais”, como descreveu Maria da Graça Carvalho, o painel foi constituído por elementos de diferentes áreas. Além de Elisa Ferreira, participaram Paul Dujardin, antigo presidente do centro de artes BOZAR, Carlos Salema, presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Miguel Araújo, investigador em temas ligados à biodiversidade da Universidade de Évora. Apesar de não ter estado presente, Filipa Roseta, vereadora da câmara municipal de Lisboa, também deixou uma mensagem a anunciar a abertura em breve de um novo concurso público na capital no âmbito do Novo Bauhaus Europeu.

Com um orçamento aprovado de 85 milhões de euros para 2021-22, o Novo Bauhaus Europeu já seleccionou, neste ano, 20 vencedores, entre os quais um projecto de Matosinhos. Lembrando este feito e os valores de “beleza, sustentabilidade e inclusão”, que norteiam o Novo Bauhaus Europeu, Elisa Ferreira exortou as cidades a exercerem a sua liderança neste processo de estimular a reconexão com a natureza, criar um sentimento de pertença entre as pessoas e os lugares onde vivem e “começar um novo movimento cultural na Europa e além”.

UM MOVIMENTO COM VÁRIAS DIMENSÕES
“Na História, o mundo da cultura foi sempre muito importante na recuperação de crises”, fez notar Paul Dujardin, historiador de arte, reforçando o “quão importante é a criatividade e a inovação na nossa sociedade” com dados de um estudo que aponta para um valor acrescentado do sector da cultura e das indústrias criativas na UE-28 de 253 mil milhões de euros em 2019.

Foi nesta linha que Dujardin fez um apanhado histórico do movimento Bauhaus europeu, incluindo o contributo das periferias europeias, como Portugal, para explicar os valores que o norteiam. Já com raízes assentes em designs e materiais inovadores, trabalho colaborativo entre artistas homens e mulheres, integração de beleza e procura de melhor qualidade de vida, o movimento Bauhaus tem hoje uma abordagem de juntar artistas e engenheiros e “colocar no centro da forma como construímos a participação pública”, sublinhou.

E, de facto, a questão do público é relevante. Como realçou Carlos Calema, “se a sociedade quiser, a ciência está ao seu dispor e não é cara, normalmente traz retorno”. Enquanto entusiasta da digitalização, focou-se em exemplificar como a ciência de I&D introduz no mercado produtos e serviços inovadores que alteram formas de estar e de viver. Como exemplos, destacou desde a cobertura Wi-Fi disponibilizada de forma gratuita na rede de autocarros públicos no Porto e ainda o uso de sensores em contentores de lixo para que a recolha possa ser feita de forma mais eficiente, até à disponibilização de tecnologia que permita ter comunicações a partir de florestas em caso de incêndios ou à investigação que procura localizar lixo nos oceanos. São projectos que podem ser “multiplicados”, mas que “dependem das autoridades locais – não tanto de dinheiro, mas de vontade em implementar”.

Seguindo a linha da digitalização e não esquecendo o objectivo de sustentabilidade, Miguel Araújo lançou uma reflexão sobre qual deve ser o foco das cidades. Deve ser na “digitalização ou na subjugação da tecnologia à sustentabilidade”? Para o especialista em biodiversidade, não é uma questão “semântica”. Por isso, reforçou que é fundamental perceber como a digitalização, além dos benefícios, também tem impactos ambientais que “têm de ser combatidos”, referindo a título de exemplo o consumo de energia subjacente à mineração de criptomoedas ou a processos como a abertura de estores que podem ser facilmente manuais. No final de contas, afirmou que o objectivo é ter cidades mais friendly para as pessoas, mas também uma melhor interacção entre territórios e recursos e uma maior sustentabilidade do território.

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