Falta de investimentos, fraco desenvolvimento dos recursos renováveis e concorrência norte-americana são alguns dos problemas que assombram as políticas energéticas da União Europeia. O isolamento da Europa neste combate tem-se revelado prejudicial no contexto internacional. Por António Cardoso
O Conselho Europeu reuniu-se em Cimeira no dia 22 de maio e convergiu as suas temáticas na urgência de serem feitos progressos nos domínios da energia. As empresas do setor apontam como falhas nas estratégias europeias: a diminuição drástica dos investimentos em grandes projetos de infraestruturas capazes de dar resposta a picos de consumo, a ausência de um quadro regulamentar preciso, e o peso muito relativo da política energética comum. Situações que na ótica das empresas podem por em causa a segurança de abastecimento energético da Europa.
Desde 2008 que a União Europeia (UE) tem uma política comum integrada de energia e alterações climáticas. Em 2007, a Comissão propôs uma estratégia designada "Pacote energia-clima: três vintes até 2020", que foi aprovada em 2008 pelo Conselho e Parlamento Europeu. Esta estratégia europeia definiu objetivos para 2020, como a redução de CO2 em 20 por cento e aproveitar 20 por cento do total de energia para consumo da UE, de proveniência renovável. Apesar destes objetivos serem obrigatórios, a estratégia define um terceiro objetivo facultativo: o aumento da eficiência energética em 20 por cento.
"A falha de abastecimento é uma questão extremamente grave e que pode por em causa dinâmicas económicas", prenuncia-se a deputada do Partido Ecologista "Os Verdes", Heloísa Apolónia, defendendo que o investimento deveria descentralizar-se dos gigantes do setor, sendo a aposta uma produção mais localizada. Porém, a eurodeputada do Partido Social Democrata, Maria da Graça Carvalho, defende que "não há uma falta visão europeia". "O que se passa é que começa a ser preciso definir o pós 2020", esclarece relativamente às queixas das empresas do setor.
A deputada com assento no Parlamento Europeu, considera que "os elevados investimentos exigidos pela construção de uma qualquer central ou linha energética requerem tempo", e é portanto urgente "definir o rumo a seguir, para dar também uma segurança ao setor empresarial e ao setor industrial". Nesse sentido, Maria da Graça Carvalho acredita que é necessário preparar "não só o 2030 mas também o 2050".
Na mensagem transmitida na semana que antecedeu a Cimeira, e segundo o jornal francês "Le Fígaro", as empresas desejam ainda que o mercado do carbono seja mais compreensível, menos dispendioso e mais eficaz, em especial no confere às licenças de emissão. As indústrias que mais consomem energia e que mais emitem, enfrentam então as apertadas medidas da UE, obrigando a enveredar pela deslocalização das centrais de produção, que vão abrir noutros locais, sem essas restrições. Trata-se muita das vezes de centrais de gás de ciclo combinado (CGG), que são também vítimas do desenvolvimento do Gás de Xisto na América do Norte.
Gás de Xisto
O gás, quatro vezes mais barato do outro lado do Atlântico do que na Europa, permite aos Estados Unidos exportarem quantidades enormes de carvão. Estas servem para alimentar as centrais de produção de eletricidade da Europa, a preços muito mais competitivos do que os do gás para as CGG.
Contudo, quando questionada a hipótese de exploração deste gás no contexto europeu, a presidente do Conselho Diretivo do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Teresa Ponce de Leão, assevera: "o que é possível nos EUA pode não ser possível na Europa. Temos que apostar em soluções em locais onde existem recursos que possam ser aproveitados". O elemento que, nas palavras da eurodeputada social-democrata, vem "baralhar o cenário internacional" fez os EUA deixarem de consumir carvão, tornando o seu preço nos mercados mais baixo, e obrigando a Europa a consumir muito mais carvão do que antes.
Ilhas de energia
A diminuição drástica dos investimentos em grandes projetos inviabiliza, no imediato, as ambições de ter uma Europa coberta de uma rede elétrica, por exemplo. "Existem ilhas do ponto de vista energético, a Península Ibérica tem uma ligação muito ténue com a França", confirma Maria Graça de Carvalho. Na questão da diversificação de fontes ou "'mix' energético", como vem definido na estratégia do "pacote clima-ambiente", as diretivas em relação ao gás e a gasodutos prendem-se com a não dependência de nenhum país fornecedor ou país de trânsito. Apesar da grande diversidade de fontes da Península Ibérica, como o gasoduto da Argélia e os oito portos de gás liquefeito, a não ligação por gasoduto à França não é favorável aos restantes estados membros, sobretudo os do norte europeu (dependentes do abastecimento russo).
Outra das situações que tem prejudicado a UE em termos de política energética é a não concretização de um acordo internacional com as restantes potências mundiais. "A Europa tem estado sozinha nesta luta", confirma Maria de Carvalho. "Reduzir o nuclear, apostar forte nas energias renováveis e um acordo internacional verdadeiramente eficaz" - são alguns dos ponto definidos por Heloísa Apolónia como fundamentais em termos futuros. Opinião partilhada pela eurodeputada e pela presidente do LNEG.