Executar a receita da 'troika' é o melhor para os países em dificuldades na zona euro recuperarem de golpes como o que a Moody's deu a Portugal e Irlanda, ao reduzir o 'rating' para 'junk' ("lixo"), defendem especialistas do setor.
"Em pormenor, poderá haver problemas, mas a receita da 'troika' está basicamente correta, até do ponto de vista legal, porque os tratados europeus definem que os países da União Europeia (UE) terão de ter, no médio prazo, as contas públicas equilibradas", considerou, em declarações à agência Lusa, o diretor do Instituto para a Estabilidade Monetária e Financeira da Universidade de Frankfurt, Helmut Siekmann.
"Os países que beneficiaram do euro, onde as taxas de juro caíram muito, não usaram essa vantagem para reforçar a economia, mas para consumo. Agora a UE tenta alinhar na outra direção. É difícil, porque também é necessário estimular o crescimento e competitividade, mas a União sabe-o", acrescentou.
Na terça-feira, a Moody's baixou o "rating" da dívida soberana da Irlanda, para 'junk' ("lixo"), depois de ter feito o mesmo a Portugal na passada semana, numa avaliação que provocou protestos em toda a Europa.
Com Portugal ainda a iniciar o programa acordado com a 'troika', Sony Kapoor, diretor-geral do centro de investigação económica Re-Define, questiona o momento da decisão da Moody´s, que explica como "uma sobrecompensação por parte das agências de 'rating' depois de terem sido demasiado otimistas antes da crise", uma ideia que Siekmann partilha.
Siekmann admitiu, no entanto, que "algumas das medidas da 'troika' não reforçam o crescimento ou a competitividade, pelo contrário, mas, no longo prazo, as verbas de coesão da UE vão permitir a Portugal ou à Grécia melhorar a competitividade".
Concordando, de forma geral, com a receita para salvar a Grécia e Portugal, Sony Kapoor, afirma no entanto, que o BCE, o FMI e a UE podem fazer melhor.
"A 'troika' precisa de mostrar que há luz ao fundo do túnel, mostrar mais sensibilidade quanto às dimensões políticas e sociais das suas receitas e ter um maior foco no crescimento", acrescentou.
Para Graça Carvalho, eurodeputada do PSD, as propostas da 'troika' vão na direção certa, com reformas que deveriam ter sido feitas há três décadas, para estimular o potencial de crescimento futuro.
"Mas é urgente reforçar o governo económico, para que a zona euro não fique tão exposta nem tão frágil face a decisões erradas como a de reduzir o 'rating' português. A Comissão Europeia e o Parlamento Europeu têm vontade de o fazer, mas o sistema europeu de decisão é lento, e é preciso acelerá-lo, para estancar todo este processo, que pode não afetar só Portugal, Grécia e Irlanda, mas toda a zona a euro e toda a Europa", sublinhou.
No lado oposto, Pascal de Lima, economista chefe da consultora Altran, diz mesmo que as políticas de austeridade da 'troika' são "uma cobra que se morde a si própria", ao imporem políticas de austeridade quando não há crescimento económico.
"As intervenções da 'troika' implicam uma política económica monetarista, de curto prazo, para atingir um equilíbrio contabilístico, no quadro do sistema monetário internacional (...). Mas o Estado não é uma empresa, há cidadãos, há impostos, há política económica, tudo isso é de longo prazo, não tem nada a ver com mercados financeiros", disse.