Como encara esta nova era de Luís Montenegro como líder do PSD? Que grande diferença fará em relação à presidência de Rui Rio?
Tenho uma grande esperança nesta nova era. O presidente foi eleito com uma grande maioria e isso e já se nota um ambiente mais tranquilo no partido.
Gostava de ver Jorge Moreira da Silva como cabeça da lista oficial ao Conselho Nacional? Seria um bom sinal de união do partido?
O presidente eleito já disse que tudo vai fazer para ter a coesão interna, agora em detalhe como vai ser não sei. Mas com certeza um dos objetivos de Luís Montenegro será certamente essa união para todo o trabalho político que é necessário.
Esse é o primeiro desafio, o da união?
O primeiro é o da coesão, que é muito importante, e depois a abertura à sociedade civil, à academia, a toda a sociedade. E a ideia que Luís Montenegro avançou de fazer os estados-gerais do PSD com o Movimento Acreditar é muito interessante. Temos de ser um partido mais aberto, e já o fomos, e as iniciativas como a de transformar o Conselho Estratégico Nacional num think thank da área não socialista, tendo a preparação de propostas e envolvendo pessoas da nossa área política, mesmo não sendo militantes, são peças importantes. E também a grande prioridade que Luís Montenegro dá à formação política, onde o Instituto Francisco Sá Carneiro pode ter um papel importante. É preciso que para tudo o que se faz haja tempo para explicar, para fazer chegar a quem se destina. Precisamos de fazer esse caminho. E a comunicação política é extremamente importante. Simples, prática: como no dia a dia vamos ter propostas para os jovens, para os reformados, que reconhecidamente se têm afastado de nós apesar de os governos do professor Cavaco Silva terem sido os que mais valorizaram as pensões e as reformas, sobretudo com o 14.º mês. Mas depois governámos em períodos de crise após 1995, primeiro o pântano, depois em bancarrota, depois dos governos de Cavaco Silva fomos sempre chamados a governar para resolver crises e, portanto, tivemos de remendar o que outros tinham feito mal. E não foi tão bem explicado essas necessidades de emergência e o que tinha sido mal feito por outros, o que provocou o afastamento de alguma parte da população, como é o exemplo dos pensionistas e parte do funcionalismo público. É preciso reganhar esses setores com propostas e há todo um trabalho a fazer nesse sentido. Temos tempo para o fazer, com ambição. Isso nota-se no presidente do partido, essa vontade de mudar, de ter uma proposta para o país e de a fazer passar. A oposição não é só criticar é apresentar caminhos.
A oposição ao governo tem de ir por esse caminho de demarcação de propostas mais do que pelas críticas?
Tem de se apontar, mas depois não se deve ficar por aí. Há muito por onde criticar o Governo pelo que não tem feito e agora tem toda a possibilidade de o fazer com maioria absoluta, as mudanças profundas, as chamadas reformas estruturais. Dou um exemplo, agora vão fazer os doutoramentos nos politécnicos, que é uma medida que até estarei de acordo, mas é feita de forma avulsa. O que é preciso neste momento no ensino superior é olhar para toda a legislação, que tem bastantes anos, e trabalhar para a Lei de Bases do Sistema Educativo e para a Lei de Financiamento e não fazer pequenos ajustes. Com uma maioria absoluta é no início da legislatura que se fazem essas mudanças estruturais, como as que o PSD fez no passado. A questão da falta de médicos, a saúde tem de ser analisada e resolvida; a execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e o atraso na execução do Portugal 20/30, o caminho de ferro que é tão importante quando queremos diminuir as emissões no setor dos transportes, o novo aeroporto, que o primeiro-ministro dizia estar à espera do PSD tendo uma maioria absoluta e estando a governar há sete anos. É preciso o PSD ter uma posição nestas matéria, fazer oposição nestes pontos e mostrar as alternativas que o partido tem.
O facto de Luís Montenegro não ter fechado a porta ao diálogo com a IL e o Chega é benéfico nesse caminho de alternativa?
A posição é a correta. O PSD tem os seus princípios e os seus valores e não abdica deles, mas irá tentar alargar a sua base eleitoral, dos eleitores que se abstiveram, aos que já votaram no PS ou que têm votado nos partidos à direita do PSD, que é o grande partido desta área política. Nos nossos partido e valores não tem lugar a xenofobia, o racismo e a atropelos aos direitos humanos. Somos um partido humanista, que promove a igualdade social e temos de nos manter fiéis aos nossos valores e princípios e não embarcar muito nessa discussão porque é para já prematuro e é estratégia que convém ao PS de desviar as atenções aos partidos à nossa direita, dar-lhes visibilidade para desgastar o PSD.
As próximas eleições europeias são o grande desafio eleitoral do novo líder do PSD? Será já possível inverter o ciclo de vitórias do PS?
Há um primeiro da Madeira, mas vai correr muito bem. Penso que sim que é possível inverter esse ciclo, mas há todo este trabalho para fazer, com os protagonistas certos que o presidente certamente irá escolher. Todos esperamos que as Europeias sejam o ponto de viragem.
Como eurodeputada do PSD subscreveu uma moção ao congresso com várias propostas focadas na Europa e no papel de Portugal entre os 27. Das várias que a compõem quais destacaria?
A necessidade de mais Europa em determinadas áreas, entre as quais a da Saúde. Com maior cooperação entre os 27 e o que se faz ao nível da Comissão Europeia na investigação cientifica nesta área, no desenvolvimento de medicamentos inovadores e procurando fazer com que cheguem às pessoas que deles necessitam. Tudo fica melhor e mais rápido se for feito em colaboração entre os 27 e a pandemia mostrou-nos isso, Precisámos de estar unidos para conseguir dar resposta aos grandes desafios que temos na área da Saúde, que tem sido muito vista como uma área nacional e devia passar por uma maior cooperação ao nível europeu. Outro setor é a energia, que também era uma área mais nacional, e é agora partilhada pelos Estados-membros. Precisamos de mais Europa para conseguirmos mais independência na energia. Com a pandemia verificamos que havia uma grande dependência industrial e foi preciso concertar mais essa produção na Europa. Agora esta guerra na Ucrânia mostrou essa grande dependência da energia. É preciso encontrar soluções tecnológicas , mas também políticas, que deem uma maior independência energética à Europa. E não basta substituir a dependência da Rússia por outro país terceiro que daqui a uns tempos nos vai dar problemas também. Temos mesmo de lutar por mais energias renováveis, mais eficiência energética e em conjunto.
O fator guerra e as consequências que já está a ter a nível económico, com aumento da inflação e de taxas de juro, não pode pôr em causa as metas da UE para vários setores?
Há um olhar mais com os pés na terra para cada uma das políticas. No que diz respeito às alterações climáticas, as ambições que tínhamos antes da guerra também servem para a independência energética. Gastar menos energia, mais renovável e produzida mais localmente são soluções que servem esse propósito. E estamos a pensar em soluções menos dispendiosas, pelo que estamos a olhar para o preço e custo da energia e ver como se reflete nos consumidores e nas pessoas. Temos de apostar em soluções mais simples e mais imediatas.
Outra das problema que se coloca com a guerra na Ucrânia é a questão da defesa da Europa. Como interpreta o facto do primeiro-ministro não se ter querido comprometer com os 2% do Orçamento de Estado para esta área?
A cooperação na Defesa a nível europeu também deve passar pela área tecnológica e temos também de fazer essa mudança para mais investigação, que também tem resultados positivos para outras áreas. O que se desenvolve na Defesa depois tem resultados positivos na indústria, na robótica, na aeronáutica, é uma forma de criar riqueza e postos de trabalho. Temos de olhar também para a Defesa de uma forma diferente, que não é um custo mas que daí se possa tirar valor acrescentado para o país em várias áreas. É muito assim que vários países olham para a área de Defesa, nomeadamente os Estados Unidos e Reino Unido, com muita investigação científica que tem desenvolvimentos laterais para todos os outros setores.
Voltando ao PSD, à nova liderança do partido que começa este fim de semana com o congresso do Porto, que conselho dá a Luís Montenegro para estes próximos tempos?
União, coesão, abertura à sociedade e ambição. Somos um partido de que Portugal precisa, que tem uma missão muito importante.
Entrevista realizada pela jornalista Paula Sá