"É difícil imaginar que as medidas de austeridade não sejam duras", disse Phil Angelides, após um encontro em Bruxelas com eurodeputados.
Angelides, que entregou ao presidente americano, no início do ano, as conclusões da comissão de inquérito, criticou também com dureza o papel das agências de notação financeira na actual crise. "As agências de 'rating' foram centrais para esta crise. Ajudaram a criar a crise (...), não fizeram o trabalho que lhes competia, utilizaram modelos ultrapassados, permitiram que os lucros se tornassem mais importantes que a integridade das suas notações", afirmou. "O que fizeram foi inflacionar os 'ratings' e depois reduziram-nos muito depressa, por isso criaram os alicerces da crise e aceleraram o declínio", referiu Angelides, em entrevista à Lusa, acrescentando que os investidores "seguiram cegamente as agências", em vez de realizarem as suas próprias avaliações.
Angelides, que lidera agora um fundo de investimentos, alertou também para a importância de Portugal, apesar das medidas de austeridade que aí vêm, não fechar por completo o investimento em actividades que permitam acrescentar valor à economia.
"Mesmo nos piores momentos, é necessário encontrar algumas fatias das receitas do Estado para financiar actividades de investigação e desenvolvimento, capital de investimento em novas indústrias, infraestruturas e educação, para que exista possibilidade de recuperação", considerou, em resposta a uma pergunta sobre Portugal da eurodeputada portuguesa Maria da Graça Carvalho. "Qualquer programa de austeridade que ignore este tipo de investimento essencial é um beco sem saída", frisou Angelides.
Na passada quarta-feira, o primeiro-ministro português anunciou que o Governo tinha feito um pedido de assistência financeira à Comissão Europeia, decisão que adiantou ter sido comunicada ao Presidente da República. O presidente do PSD apoiou o apoio ao pedido de ajuda financeira externa feito pelo Governo, acrescentando que o seu partido está disponível para apoiar "um quadro de ajuda mínimo" a negociar pelo Executivo. Já Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, garantiu ao primeiro-ministro que o pedido de activação dos mecanismos de auxílio financeiro será tratado "da forma mais expedita possível, de acordo com as regras pertinentes".