Artigo da jornalista Marisa Figueiredo
Passado o frenesim em torno do acordo internacional na Cimeira do Clima de Cancún, é altura de olhar para os resultados e perceber o contributo da COP16 para um futuro acordo climático global, de carácter vinculativo. Para Graça Carvalho, eurodeputada portuguesa e membro da delegação do Parlamento Europeu na capital do México, as atitudes demonstradas pela China e Estados Unidos, os dois players internacionais críticos para as negociações vinculativas, fazem acreditar na possibilidade de um acordo global já em 2011, na Cimeira de Durban, África do Sul.
«Estão criadas as bases para se chegar a um acordo na África do Sul», admite a eurodeputada, sublinhando os resultados concretos que se realizaram no último dia da Cimeira e a abertura da China. Para Graça Carvalho, «a China fez uma autêntica operação de charme em Cancún». Nessa mudança de comportamento, a parlamentar fala na flexibilidade de Pequim quanto às questões de verificação da acção climática no país. No cerne da boa-vontade demonstrada está, no entender da eurodeputada, a responsabilidade chinesa integrada nas pretensões de ser uma potência mundial. Segundo o acordo alcançado em Cancún, haverá um reporting anual para os países desenvolvidos, enquanto os países em desenvolvimento terão uma obrigação de dois em dois anos.
Também os Estados Unidos demonstraram um comportamento positivo. «Há, nitidamente, uma preocupação dos EUA em não querer ficar com as culpas das falhas das negociações», defende Graça Carvalho. A vontade de resolver as várias questões pendentes e as alterativas demonstradas, no âmbito da política nacional de Washington, ao recuo da proposta legislativa sobre limites de emissões de CO2 são alguns dos pontos positivos salientados.
A eurodeputada destaca ainda o acordo obtido em relação ao Fundo Verde do Clima, que vai ajudar os países menos desenvolvidos nos esforços de preservação do ambiente, assim como o mecanismo de protecção das florestas tropicais. Como pedra de toque, a transparência nas negociações e a condução do processo por parte da presidência mexicana foram, para Graça Carvalho, essenciais à bom ambiente que se viveu em Cancún e às grandes esperanças para 2011. Os 193 países participantes da Cimeira do Clima das Nações Unidas reuniram-se, em Cancún, de 29 de Novembro a 10 de Dezembro.