As medidas de austeridade que o fundo europeu de resgate e o FMI vão aplicar a Portugal serão duras, avisou hoje o homem que o presidente americano Barack Obama nomeou para presidir à comissão de inquérito à crise financeira.
"É difícil imaginar que as medidas de austeridade não sejam duras", disse Phil Angelides, em declarações à agência Lusa, após um encontro em Bruxelas com eurodeputados.
Angelides, que entregou ao presidente americano, no início do ano, as conclusões da comissão de inquérito, criticou também com dureza o papel das agências de notação financeira na atual crise.
"As agências de 'rating' foram centrais para esta crise. Ajudaram a criar a crise (...), não fizeram o trabalho que lhes competia, utilizaram modelos ultrapassados, permitiram que os lucros se tornassem mais importantes que a integridade das suas notações", afirmou.
"O que fizeram foi inflacionar os 'ratings' e depois reduziram-nos muito depressa, por isso criaram os alicerces da crise e aceleraram o declínio", referiu Angelides, em entrevista à Lusa, acrescentando que os investidores "seguiram cegamente as agências", em vez de realizarem as suas próprias avaliações.
Angelides, que lidera agora um fundo de investimentos, alertou também para a importância de Portugal, apesar das medidas de austeridade que aí vêm, não fechar por completo o investimento em actividades que permitam acrescentar valor à economia.
"Mesmo nos piores momentos, é necessário encontrar algumas fatias das receitas do Estado para financiar actividades de investigação e desenvolvimento, capital de investimento em novas indústrias, infraestruturas e educação, para que exista possibilidade de recuperação", considerou, em resposta a uma pergunta sobre Portugal da eurodeputada portuguesa Maria da Graça Carvalho.
"Qualquer programa de austeridade que ignore este tipo de investimento essencial é um beco sem saída", frisou Angelides.
Na passada quarta-feira, o primeiro-ministro português anunciou que o Governo tinha feito um pedido de assistência financeira à Comissão Europeia, decisão que adiantou ter sido comunicada ao Presidente da República.
O presidente do PSD apoiou o apoio ao pedido de ajuda financeira externa feito pelo Governo, acrescentando que o seu partido está disponível para apoiar "um quadro de ajuda mínimo" a negociar pelo Executivo.
Já Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, garantiu ao primeiro-ministro que o pedido de ativação dos mecanismos de auxílio financeiro será tratado "da forma mais expedita possível, de acordo com as regras pertinentes".
RBV
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