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Artigos de Opinião | 13-03-2024 in Diário de Notícias

A mobilidade é um dos temas fundamentais para o presente e o futuro da União Europeia. Assumimos o compromisso de descarbonizar a nossa economia até 2050, e sabemos que os transportes representam aproximadamente 29% das emissões europeias de CO2 (em Portugal chegam aos 37%). Mas estamos conscientes, também, de que mobilidade rima com liberdade. A liberdade de deslocarmos rapidamente pessoas e mercadorias, em curtas e grandes distâncias, é uma conquista civilizacional, da qual não queremos nem devemos prescindir.

Por isso, a questão é como conciliar estas duas necessidades – reencontrar o equilíbrio natural com o nosso planeta e manter a mobilidade que faz parte do código genético das sociedades humanas modernas. E a resposta é que não existe uma única medida, nem uma única solução tecnológica, que nos leve a bom porto neste capítulo. O sucesso resultará sempre da conjugação de diferentes fatores.

Teremos de fazer cedências e mudar de hábitos, mas não podemos acreditar, como parece ser o caso de alguns ativistas climáticos mais exaltados, que as pessoas irão pura e simplesmente abdicar, de forma esmagadora, de andar de avião ou de utilizar um veículo particular. Não o farão, muito menos sem alternativas.

Por isso, temos que trabalhar na criação dessas alternativas, nomeadamente apostando na ferrovia e no transporte público urbano e suburbano de qualidade. Algo que Portugal tem tardado em fazer. E temos, também, de trabalhar em formas sustentáveis de manter, ainda que desejavelmente com uma utilização menos intensiva, o transporte particular e a aviação comercial.

Proibir e impor sem oferecer alternativas credíveis é a receita para o insucesso. E o mesmo se aplica a uma certa tendência que existe, no plano da tecnologia, para apostar todos os trunfos numa frente, abdicando de outras que poderiam dar um contributo importante para alcançar os mesmos objetivos.

Veja-se, a propósito, o artigo publicado pelo DN na passada semana, intitulado: “Problemas da mobilidade elétrica começam a revelar-se”, no qual se demonstra como, em países como a Noruega, o foco exclusivo na eletrificação dos transportes públicos e privados está a criar novos problemas, alguns dos quais serão mais tarde ou mais cedo sentidos no nosso país.

É precisamente por isso que, no que respeita ao combate às alterações climáticas em geral, e à mobilidade em particular, o Partido Popular Europeu tem defendido o princípio da neutralidade tecnológica. Ou seja: tem defendido que não devemos focar-nos em soluções únicas preterindo certas tecnologias que nos poderão conduzir aos mesmos objetivos.

Exemplo do que digo são as novas gerações de combustíveis sintéticos neutros em termos de emissões de CO2, como o e-querosene, e-metano e e-metanol, os quais poderão revelar-se particularmente importantes para setores difíceis de eletrificar, tais como os transportes marítimos e aéreos e os transportes pesados rodoviários, mas também podem ser um complemento interessante à eletrificação dos veículos particulares.

Temos de inovar e de diversificar. E a boa notícia é que já o estamos a fazer. A União Europeia tem o maior Programa de Investigação e Inovação do mundo no Horizonte Europa. E neste programa, especialmente no Pilar II, existem parcerias muito importantes em matéria de mobilidade e transportes, abrangendo a aviação limpa, a mobilidade rodoviária com emissões zero, os comboios e vários outros domínios. Cabe-nos, tanto a nível europeu como em cada Estado-Membro, saber potenciar e combinar estas soluções, para servir as pessoas e o planeta.

P.S. A AD venceu as eleições legislativas de 10 de março. A seu tempo falarei das implicações e dos desafios colocados por esta votação, que nos deixou a todos em suspenso até ao último momento. Para já, fica apenas uma nota, que parece estar a faltar nas análises ao escrutínio de domingo: os portugueses escolheram inequivocamente uma mudança política, e identificaram claramente aquele que querem ver a liderá-la: Luís Montenegro.

 

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