No tema da negociação e distribuição das vacinas, houve alguns atrasos da União Europeia numa fase inicial. No entanto, as questões que têm vindo a ser levantadas só reforçam a minha convicção de que a estratégia de concentrar na Comissão Europeia a aquisição e disponibilização das mesmas foi, não apenas acertada, mas essencial. Num contexto de enorme procura, é fácil de imaginar o que aconteceria se Portugal tivesse de concorrer directamente com países capazes de pagarem o dobro ou o triplo pelo privilégio de serem servidos primeiro.
É importante que se mantenha uma atitude de vigilância com as farmacêuticas, embora favorecendo a negociação ao conflito. Teremos de trabalhar com estas para corrigir o que está a correr pior.
No sinal de esperança que tem sido este primeiro mês de vacinação, há duas nuvens a pairar no horizonte, mais inquietantes pelo facto de a pandemia ter atingido patamares complicadíssimos. O primeiro é a assumida incapacidade de alguns fabricantes cumprirem os prazos de produção contratualizados, num contexto em que o desejável seria acelerar a vacinação. O segundo, a anunciada menor eficácia da vacina de Oxford/AstraZeneca, recentemente aprovada pela Agência Europeia do Medicamento (EMA).
Mas há passos que podem ser dados ao nível da União Europeia, desde logo para aumentar a produção das vacinas, reforçando a aquisição daquelas que comprovadamente são mais eficazes.
O caminho só pode passar pelo envolvimento de novos laboratórios no processo. O anúncio de que a Sanofi irá produzir 100 milhões de doses da vacina da BioNtech/Pfizer é um bom sinal, mas que deve ser rapidamente multiplicado através de acordos que permitam alavancar a produção. Inclusivamente a nível local, incluindo farmacêuticas e até laboratórios militares dos diferentes Estados-Membros.
Portugal foi um dos países que apostaram forte na vacina de Oxford/AstraZeneca, encomendando 6,9 milhões de doses, destinadas a 3,45 milhões de pessoas. A confirmar-se, como indicado no comunicado da EMA, que a mesma tem níveis de eficácia da ordem dos 60%, por comparação com os mais de 90% das outras soluções disponíveis, teremos um problema em mãos.
Não apenas devido a estas percentagens, mas porque, de acordo com a comissão de vacinação alemã, esta vacina não é recomendada a maiores de 65 anos, por não existirem dados disponíveis para avaliar a sua eficácia nesta faixa etária.
Os Estados membros, baseados em sólidos pareceres científicos e éticos, deverão por isso avaliar a que partes da população poderão ser administradas, ao mesmo tempo que as farmacêuticas – aliás, todas. Não apenas esta - deverão continuar os ensaios clínicos, com vista a melhorar os desempenhos até agora registados e acautelar futuros desafios, como novas mutações do vírus.