1. No seu programa do último domingo, Ricardo Araújo Pereira sugeriu com graça, mas sem razão, que Rui Rio tem estado nos debates eleitorais com excesso de cortesia para com os seus adversários. Na realidade, o que o líder do PSD tem feito é exatamente o que se espera de um candidato a primeiro-ministro: que apresente a sua visão para o país, preocupando-se menos com os soundbites e mais com a substância da mensagem.
É certo que o formato destes debates, curtos e a contrarrelógio, favorece pouco a discussão das ideias. Porém, se alguém esperava que Rio adaptasse a sua postura ao ritmo da dança, conhecia-o mal. Quando foi preciso ser acutilante - por exemplo clarificando a impossibilidade de o Chega integrar um governo do PSD ou vincando, com números, a importância dos apoios sociais para retirar muitos portugueses da pobreza - não deixou margem para dúvidas. Contudo, para ele, a prioridade será sempre vincar a visão do PSD, e não alinhar em provas de pugilismo cujo vencedor é declarado por um painel de juízes após o soar do gongo.
Se olharmos para os diferentes programas eleitorais, em particular para os programas de PSD e PS, percebemos a coerência dessa posição. Há quem diga que os dois partidos têm muitos pontos em comum. E, nominalmente, os grandes objetivos estão presentes nos dois documentos: os desafios do clima e da digitalização, o combate às diferentes desigualdades, a aposta na qualificação da população. Mas há uma diferença substancial: enquanto a proposta socialista agrega intenções, muitas não concretizadas no passado, o programa do PSD é uma estratégia coerente, onde todas as áreas de atuação contribuem para o mesmo fim de melhorar o país.
O PSD sabe que, para aumentar salários, dinamizar a economia, tornar as nossas empresas mais inovadoras e competitivas, não bastam decretos e incentivos. É preciso criar as condições de base para termos um ecossistema favorável ao crescimento. E isso implica fazer reformas na fiscalidade, na justiça, no funcionamento geral da administração pública, que o PS não parece disposto a assumir.
Identificar desafios é apenas o início. Depois, é preciso sinalizar as causas dos problemas e traçar caminhos claros para a sua solução. Cingindo-me apenas às áreas que tenho acompanhado com maior proximidade, ocorrem-me vários exemplos desta diferença de postura.
Ambos os partidos assumem o combate à desigualdade entre homens e mulheres, não apenas nos salários, mas no acesso a determinadas áreas de atividade de particular importância, mas apenas o PSD apresenta um programa especifico (Tecnologias no Feminino) para o reforço da formação de mulheres nas TIC.
É consensual a relevância para o país dos setores cultural e criativo, mas apenas o programa do PSD reconhece o seu enorme potencial, tanto económico como de elemento decisivo na identidade e formação plena dos portugueses. E apenas o PSD aponta para a criação de uma Lei de Bases da Cultura, que dignifique e traga segurança aos profissionais do setor.
O mesmo pode ser dito em relação ao ensino superior e à ciência, onde o PSD cria condições reais para a independência das instituições e centros de investigação, bem como a autonomia das agências financiadoras face ao poder político. Isto, além da diversificação das ofertas formativas, mais apoios para os alunos e um esforço real para fazer das instituições do ensino superior um fator decisivo de coesão territorial.
2. Recebi com muita tristeza a notícia da morte de David Sassoli. Presidente do Parlamento Europeu num período difícil, em que nos confrontámos com uma pandemia que muito condicionou a nossa forma de trabalhar, foi incansável nos esforços para garantir que aquela casa continuava a cumprir a sua missão, e que os próprios deputados eram um modelo de conduta para os cidadãos europeus.