A Comissão da Indústria, Investigação e Energia (ITRE), do Parlamento Europeu, deverá aprovar nesta quarta-feira um relatório, do qual fui autora, sobre Computação de Alto Desempenho (EuroHPC JU). Trata-se de uma parceria extremamente importante para o futuro da União Europeia, que passará a contar com alguns dos supercomputadores mais poderosos do mundo e que ambiciona estar na linha da frente em termos de capacidade de processamento de dados.
Portugal, como é sabido, tem um interesse particular nesta parceria, uma vez que foi um dos países escolhidos para acolherem os supercomputadores que irão servir a futura rede europeia. O "Deucalion", inserido no centro operacional de computação avançada de Portugal, será capaz de executar dez milhões de biliões de cálculos por segundo, sendo um dos mais potentes já construídos. Representa um investimento de 20 milhões de euros, sete dos quais suportados por verbas da União Europeia. Um valor que poderá facilmente dar lugar a um retorno muito superior, dadas as inúmeras potencialidades deste equipamento, desde a Inteligência Artificial e a Engenharia Biomédica à luta contra as alterações climáticas.
Mas para que isso suceda, para que o país embarque na revolução digital, não bastam os equipamentos. Há que criar todo um ecossistema de excelência ao nível da inovação tecnológica, que proporcione as condições para se aproveitar todo o potencial da supercomputação. No meu relatório, concentro-me nos vários passos que devem ser dados pela União Europeia nesse sentido, sendo que os mesmos são igualmente válidos para Portugal.
A primeira questão prende-se com o acesso a esta tecnologia. Para que as capacidades de supercomputação sejam de facto uma mais-valia, devem ser acessíveis a todos os que destas podem beneficiar. O "Deucalion" não pode ser um projeto circunscrito ao meio académico e de investigação.
Os seus responsáveis devem ativamente procurar desenvolver soluções orientadas para a indústria e para as empresas, tanto as grandes empresas como as de menor dimensão. A economia portuguesa, tal como sucede em toda a Europa, está confrontada com grandes desafios (que também são oportunidades) para concretizar as transições verde e digital. E todos os recursos que possam ser utilizados para facilitar esse processo devem aproveitados.
Para que estas capacidades possam ser aproveitadas por todos os potenciais beneficiários, terão de ser adotadas práticas que valorizem a simplicidade e a flexibilidade de procedimentos, por exemplo permitindo o lançamento de projetos em consórcios, e facilitando sinergias com diversas fontes de financiamento nacionais e comunitárias.
Outra dimensão para a qual toda a Europa terá de olhar, se espera concretizar a meta de estar na linha da frente na área do digital, é a manufatura, em particular de microprocessadores, em relação aos quais existe uma dependência quase absoluta de fabricantes asiáticos. Portugal tem mostrado capacidade de inovação nas novas tecnologias, testemunhada por projetos que têm gerado grande interesse a nível mundial. Essa capacidade poderia também ser levada pela indústria nacional para o campo da produção de componentes imprescindíveis para a transição digital.
Finalmente, mas não menos importante, existe a questão das competências, reconhecidamente um dos grandes obstáculos quando se tratar de apostar e de ter acesso a toda a infraestrutura de investigação científica e de inovação, em particular quando se trata das novas tecnologias. Portugal tem de continuar a apostar na qualificação da sua população, com especial atenção ao acesso das mulheres à economia digital, e as empresas portuguesas têm de procurar adaptar-se, para que possam tirar o melhor partido destas tecnologias.