Imprensa Sobre o PSD e as mulheres

Artigos de Opinião | 06-12-2023 in Diário de Notícias

São José Almeida afirmou, no jornal Público, que "existe uma cultura misógina no PSD". E repetiu o rótulo por diversas vezes, acrescentando-lhe o adjetivo "bafiento", não fosse escapar a alguém o caráter definitivo do seu julgamento. Em circunstâncias normais, por mais injustas que me parecessem estas palavras, nada teria a comentar. Alexandre O"Neill escreveu: "Não te ataques com os atacadores dos outros", e em 99% dos casos estava certo. Mas depois restam aquelas raras ocasiões em que, se nos deixamos ficar quietos, corremos o risco de ser enleados.

O contexto conta muito. Este não foi mais um artigo de opinião de um qualquer cidadão, nem sequer de um comentador. Estamos a falar de uma coluna intitulada: "A semana política", assinada por uma redatora-principal daquele jornal, a qual, por sinal, esteve em Almada a cobrir o último Congresso do PSD.

A separação entre notícia e opinião, que deve ser clara, de acordo com as regras deontológicas pelas quais se rege a classe, é aqui bastante difusa. No mesmo artigo, convivem descrições de factos ocorridos no congresso, considerações carregadas de pejorativos e, até, interpretações criativas - como a especulação sobre o facto de Cavaco Silva ter dito que a mulher o aguardava para jantar.

O momento não é indiferente. Num período pré-eleitoral, rotular como "misógino" um dos partidos que se apresentarão a essa eleição pode influenciar o sentido de voto do eleitorado, nomeadamente o feminino. Principalmente tendo em conta a credibilidade que o estatuto e experiência profissional conferem a quem escreve essas palavras. Que o tenha feito a propósito de um congresso onde foram aprovadas alterações estatutárias importantes em termos de paridade de género só aumentou a minha surpresa.

Ninguém me apanhará a dizer que as mulheres estão suficientemente representadas nos cargos de poder, incluindo no poder político. Julgo que o meu histórico de intervenções públicas, bem como o meu trabalho político no Parlamento Europeu, são prova suficiente do que penso e do que defendo a este respeito. E seguramente não excluo o PSD da lista de partidos com muito a fazer nesse campo. Mas pretender fazer do PSD um exemplo de discriminação das mulheres, por oposição às supostas virtudes dos seus principais rivais políticos é, para me socorrer da mesma iconografia de contos de fadas que dá o título ao artigo de São José Almeida, uma história da carochinha muito mal contada.

O PSD, como aliás é referido no artigo em causa, já foi presidido por uma mulher, Manuela Ferreira Leite, coisa que nunca aconteceu na história do Partido Socialista. E também teve na mesma Manuela Ferreira Leite a primeira líder de um grupo parlamentar. E teve em Assunção Esteves a primeira - e até agora única - mulher a exercer as funções de presidente da Assembleia da República, a segunda figura do Estado Português.

O PSD tem ainda um longo caminho a percorrer para reforçar a representatividade das mulheres no poder autárquico e na Assembleia da República. Mas cumpre a lei em ambos os casos. E, no Parlamento Europeu, até tem igualdade entre o número de deputados e de deputadas.

E se é verdade que continuam a existir grandes assimetrias na representatividade nos órgãos dirigentes do partido, questão para a qual servem medidas como as que agora foram aprovadas, também é verdade que existe paridade de género no Conselho Estratégico Nacional, que é o órgão responsável pela definição de todas as linhas programáticas do partido.

Finalmente, o PSD, em parceria com o Instituto Francisco Sá Carneiro, é desde há muito tempo um promotor do envolvimento das mulheres na vida pública, nomeadamente através da Academia de Formação Política para Mulheres Social-Democratas. A mesma academia em que, em março de 2021, quebrando um longo período de afastamento de eventos partidários, fez questão de participar Cavaco Silva.

 

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