A Comissão Europeia acaba de publicar a última versão do EU Industrial R&D Investment Scoreboard, que analisa os investimentos em investigação científica e desenvolvimento (I&D) feitos pela indústria. Os dados relativos a Portugal, embora nada inesperados, são francamente dececionantes.
Em linhas gerais, contam-se pelos dedos de uma mão as empresas nacionais que conseguem figurar no Top-1000 das que mais investem. A saber: EDP, BIAL, Crédito Agrícola, CTT e Caixa Geral de Depósitos.
É de louvar o esforço individual feito por estas empresas, nomeadamente pelas duas primeiras da lista, que figuram no Top-250 europeu, mas não podemos de forma alguma ficar satisfeitos com a prestação do país. No seu todo, as "grandes" investidoras nacionais gastaram apenas 228,87 milhões de euros em I&D no último ano, o que representa 0,11% do investimento feito pelas mil maiores empresas europeias.
No extremo oposto está a indústria alemã, com uns impressionantes 46,5% de share, respeitantes a cerca de 93 620 milhões de euros, investidos por 285 empresas. Valores que explicam a enorme importância que aquele país tem na economia europeia. Mas há outros exemplos, mais comparáveis ao nosso em termos de dimensão ou de população, com desempenhos nos nossos antípodas, tais como a Holanda (12,2% do share), a Suécia (6,46%) ou a Irlanda (4,23%).
Não vale a pena apontarmos o dedo à nossa indústria, porque o problema nacional é sistémico. Em comum, estes países com indústrias dinâmicas, que estão também entre os mais ricos da Europa, têm algo que há muito venho defendendo ser imperioso criar em Portugal, que é um ecossistema favorável à inovação, abrangendo a fiscalidade, os apoios e incentivos ao investimento, a redução da burocracia, a eficiência dos serviços públicos.
Falta-nos um Estado que entenda que os recursos limitados que tem ao seu dispor têm de ser colocados ao serviço da criação de riqueza e de valor acrescentado, pois esta é única forma de melhorar consistentemente as condições de vida dos cidadãos.
Para percebermos porque continuamos a perder competitividade, para entendermos o motivo de estarmos cada vez mais a encaminhar-nos para a cauda da Europa em termos de PIB per capita e de paridade do poder de compra, basta vermos o que vamos fazendo, ou deixando de fazer, na aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), por comparação com os nossos parceiros europeus.
Regressemos à comparação extrema. A Alemanha não só orientou o seu PRR para a dinamização da economia, como adotou medidas adicionais de apoio à indústria às empresas nacionais de tal forma intensas, nomeadamente no plano financeiro, que chegou a receber um discreto alerta da Comissão Europeia para evitar excessos.
Já em Portugal, temos um PRR onde desde o início, nas dotações iniciais, existia demasiado Estado (perto de metade do total) por comparação com as verbas para as empresas, as famílias e as instituições sociais. Mas cuja realidade atual é ainda bastante pior do que aquilo que constava das propostas submetidas a Bruxelas. Ao nível dos valores já aprovados, o beneficiário Estado aproxima-se nesta altura dos três quartos do total. No que toca a verbas efetivamente já pagas, representa cerca de 80%. E é a isto que o governo se refere como uma execução bem-sucedida do PRR.
Não costumo ser dada a pessimismos, mas confesso ver poucos motivos para estarmos entusiasmados com o que o futuro nos reserva. Infelizmente, quem nos governa há sete anos - e provavelmente continuará a fazê-lo nos próximos quatro - revela muito pouca capacidade para aprender com os sinais que nos vão sendo dados por diferentes indicadores. Assim, o meu desejo para este final de ano é que quem tem o poder e a responsabilidade de decidir comece a encarar a realidade e a agir em consonância.
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