Há duas semanas escrevi aqui que a escolha de Carlos Moedas para a corrida a Lisboa tinha não apenas trazido dinamismo ao PSD, mas elevado o nível global destas eleições autárquicas. Para todos os partidos. Com a decisão que tomaram neste domingo, os eleitores lisboetas demonstraram que esperam e exigem essa subida de fasquia. O que o futuro presidente da Câmara de Lisboa tinha para oferecer - competência, visão de futuro, espírito de missão, coragem política e pessoal, proximidade e humanismo - era precisamente aquilo que procuravam os que lhe deram os seus votos.
Como foi dizendo Manuela Ferreira Leite nos seus comentários durante a noite eleitoral e como o próprio defendeu mais tarde no discurso de vitória, Carlos Moedas pode muito bem ser o início de "novos tempos", não apenas em Lisboa e nas eleições autárquicas, mas na vida política nacional. Com todo o mérito pessoal que teve em travar e vencer contra todos os prognósticos esta batalha formidável, ele poderá não ser um epifenómeno, mas antes um sinal de mudança. Não apenas de cores políticas, mas da forma de estar na política.
Este não foi apenas um voto de protesto contra Medina. Foi, sobretudo, um voto de afirmação de expectativas. O voto de quem, não cedendo ao conformismo da abstenção, se deslocou às urnas para fazer a diferença. E é importante sublinhar que isto não se passou apenas na capital. Em muitos outros pontos do país, foram vários os "tubarões" e "bastiões" derrubados ou que perderam muita da sua força. O nome ou a cor e símbolos das bandeiras não foram infalíveis quando, do outro lado, estiveram projetos que os eleitores reconheceram como melhores.
Numa altura em que se multiplicam as análises ao day after das eleições e em que se discutem as implicações das mesmas nas corridas à sucessão dos principais partidos, é muito importante que não percamos de vista aquela que foi a principal lição a retirar destas autárquicas. E essa, na minha opinião, é que para conquistar a confiança dos eleitores já não basta anunciar mundos e fundos; é preciso ter uma visão clara, de longo prazo, e demonstrar como se pretende concretizá-la.
António Costa bem pode reclamar a vitória que nominalmente teve nestas eleições autárquicas, que, seguramente, não se livra da condição de principal destinatário dessa mensagem. Pela campanha que fez e que o seu partido fez atrás de si, a reboque das promessas de distribuir no imediato aquilo que deveria estar a pensar em investir com uma visão de longo prazo.
Já Rui Rio alcançou aquilo a que se tinha proposto. O PSD saiu claramente mais forte deste domingo eleitoral.
Carlos Moedas, por seu turno, começa agora uma nova jornada, que só ele saberá até onde o poderá levar. Com o mesmo número de vereadores eleitos do PS, sem o suporte do IL - que apostou e perdeu na sua cruzada solitária - e com uma esquerda cada vez mais resignada a fazer da influência sobre os socialistas a sua única estratégia de afirmação, não se antecipa que venha a ter a vida fácil em Lisboa. Mas se ele quisesse facilidades nem estaria nesta posição. Foi precisamente graças à sua capacidade e combatividade que pôs fim a 14 anos de governação socialista na capital. E será com estas armas que, não tenho dúvidas, fará um trabalho que será recordado por muitos anos.