Amorte de António Almeida Henriques deixa uma terrível sensação de perda a todos os que tiveram a sorte de se cruzar com ele. Perda de um ser humano excecional, de uma simpatia e uma disponibilidade inexcedíveis, e perda de um político na aceção mais nobre da palavra, inteiramente comprometido com a missão de melhorar a vida dos cidadãos. Não apenas dos viseenses, aos quais se dedicava de uma forma mais direta, mas de todos os portugueses.
Era alguém com quem eu partilhava a convicção sobre o papel decisivo da ciência e da inovação como fatores de crescimento e de combate às assimetrias, nomeadamente regionais, e isso levou-nos naturalmente a colaborar em algumas ocasiões.
Quando integrei como ministra o XVI Governo Constitucional, era Almeida Henriques presidente da Associação Empresarial da Região de Viseu, trabalhámos juntos num projeto extremamente inovador para Viseu, que ligava as instituições do ensino superior públicas e privadas, as PME da região e grandes universidades e empresas internacionais. O projeto acabou por não avançar, por força da queda desse governo, mas as boas ideias que daí saíram não foram desperdiçadas.
Mais tarde, esses princípios ajudariam a inspirar o modelo que se desenvolveu para o Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT), a cuja criação estive ligada através da Comissão Europeia e como eurodeputada. Nomeadamente na lógica da constituição de Comunidades de Inovação e Conhecimento (KIC) envolvendo as diferentes partes interessadas e abrangendo todos os pilares do triângulo do conhecimento: educação, ciência e inovação.
O próprio Almeida Henriques concretizou muitas dessas ideias em Viseu, dando ao seu concelho indicadores de dinamismo, inovação e excelência que vieram contrariar a "fatalidade" da condição de interioridade e servir de exemplo ao país.
Era um construtor de pontes excecional, não apenas graças às suas qualidades humanas inatas, reconhecidas por apoiantes e adversários políticos, mas também pela sua experiência acumulada, tanto na política como no meio empresarial e junto da academia. Essa combinação de competências permitia-lhe mobilizar vontades em torno dos projetos e, sobretudo, identificar a melhor forma de os concretizar. Concebia modelos inovadores e depois passava-os à prática com grande pragmatismo, aproveitando, por exemplo, o seu conhecimento aprofundado dos fundos europeus, que o ajudava a identificar de imediato possíveis linhas de financiamento.
Mais recentemente integrei o conselho estratégico do projeto Portugal Smart Cities - Cidades Sustentáveis, da AIP, do qual ele era presidente. Este projeto ainda deu origem a uma grande conferência em Lisboa, em 2019. A segunda, marcada para maio do ano passado, acabou por já não se realizar devido à pandemia de covid-19.
Convido todos os que não conhecem essa iniciativa a consultarem as dezenas de ideias produzidas e a informarem-se sobre o programa Autarquias 4.0, pelo qual este autarca dava a cara e que ambicionava ver aprovado. Um programa assente em cinco áreas fundamentais: identidade, capital humano, infraestruturas, conectividade e dados.
A perda de Almeida Henriques deixa-nos com um vazio insubstituível. Mas devemos à sua memória e a nós mesmos, ao nosso futuro, a obrigação de não deixarmos cair as suas ideias. Não será fácil, agora que já não contamos com a sua presença mobilizadora. Mas se ele cá estivesse com certeza não se deixaria abater pelas contrariedades, por mais desafiadoras que estas fossem. Encontraria novas soluções. E é isso que temos de fazer.