Médicos, enfermeiros, pessoal de saúde em geral, têm estado na linha da frente da luta contra a COVID-19 desde o primeiro dia. Eles assumiram os maiores riscos, suportaram as longas horas de trabalho sob grande pressão, lidaram com o peso mental de darem o seu melhor 24 horas por dia, sete dias por semana, e de constatarem que isso muitas vezes não era o suficiente, porque estavam a combater um adversário implacável.
A Europa reconheceu merecidamente o papel que têm desempenhado nesta crise. Através de gestos simbólicos, como a tradição do período de confinamento de os aplaudirmos nas nossas varandas todos os dias às 20.00, e de compromissos concretos. Nomeadamente no sentido de assegurar que poderão fazer o seu trabalho sem terem de se preocupar com obstáculos como carências injustificadas de pessoal e de equipamentos.
Contudo, há outros também dignos de reconhecimento pelos sacrifícios que têm feito por terceiros. Sacrifícios que nem sempre têm recebido esse reconhecimento. Entre estes estão os cuidadores, formais e informais.
Os cuidadores continuaram a tratar dos nossos idosos, dos nossos doentes crónicos, dos nossos cidadãos portadores de deficiência, ao longo de todas as etapas desta pandemia. Não houve possibilidade de teletrabalho para eles.
Trabalhando com diferentes grupos de risco da população, também eles viram partir muitos que não conseguiram vencer esta doença. E também eles, ocasionalmente, pagaram o derradeiro preço por dedicarem as suas vidas aos outros.
Os surtos de COVID-19 em lares de terceira idade têm sido comuns ao longo desta crise. Frequentemente, com consequências graves para os residentes, mas também para o pessoal. Recentemente foram detetados vários casos num lar de Reguengos de Monsaraz, no Alentejo. Entre eles estava uma mulher de 40 anos, uma cuidadora, que tal como vários utentes acabou por não sobreviver.
Deveremos encarar a sua morte como mais um número anónimo numa estatística? Ou temos de reconhecer que esta pessoa perdeu a sua vida concretizando um dos pilares de qualquer sociedade: a nossa capacidade de cuidarmos daqueles que são incapazes de cuidar deles próprios?
Se concordarmos que a segunda descrição é mais adequada, temos de começar a procurar formas de melhorar as condições de trabalho deste grupo, tal como o estamos a tentar fazer em relação às vidas dos médicos, enfermeiros e outro pessoal de saúde.
O cuidado acontece dentro das casas e dentro das comunidades. É ajustado às necessidades de indivíduos e de comunidades específicas. Contudo, isso não significa que não existam pontos em comum a considerar. Existem! Incluindo o facto de a maioria dos cuidadores, formais e informais, serem mulheres.
Na Europa, as mulheres representam 93% dos cuidadores em creches, 86% dos cuidadores pessoais em serviços de saúde, e 75% de todos os cuidadores informais. E correspondem ainda a 4,5 milhões dos 5,5 milhões que prestam serviços de cuidados pessoais nas casas das pessoas.
Temos de abordar estes pontos em comum, e é por isso que estamos a apelar ao estabelecimento de uma Estratégia Europeia para os Cuidadores, destinada a assegurar que o seu trabalho é reconhecido e valorizado nas nossas sociedades. Uma estratégia que permitiria recolher dados sobre tendências comuns nos cuidados por toda a Europa, que abordaria as tendências comuns no emprego e na adequada proteção social dos cuidadores, e que poderia utilizar fundos europeus existentes na infraestrutura de cuidados. Temos de cuidar daqueles que, mais cedo ou mais tarde, irão cuidar de nós.