Imprensa Carta aberta aos jovens eleitores

Artigos de Opinião | 06-02-2024 in Diário de Notícias

Caros jovens portugueses, venho fazer-lhes um apelo: no próximo dia 10 de março, nas eleições legislativas, não fiquem em casa. Não abdiquem, por omissão, de ter uma palavra decisiva no que será feito para lhes garantir um futuro melhor, no país onde nasceram. O voto é uma expressão, ainda que imperfeita, das nossas crenças e da nossa vontade. Quando deixamos de exercer esse direito, estamos indiretamente a correr o risco de reforçar posições com as quais não concordamos.

A juventude é inconformada por natureza. E, por isso mesmo, é uma poderosa força de mudança. Blaise Pascal concebeu a primeira calculadora aos 19 anos. Steve Jobs tinha 21 quando fundou a Apple. Malala Yousafzai tornou-se na pessoa mais nova do mundo a conquistar o Nobel da Paz, aos 19 anos, pela sua coragem perante a violência e a discriminação. Salgueiro Maia ainda não tinha completado 30 anos de idade quando, há quase meio século, a 25 de Abril de 1974, comandou a coluna de blindados que se deslocou de Santarém ao Terreiro do Paço para fazer a revolução.

Poucos são aqueles, novos ou velhos, que podem aspirar a ser imortalizados pela história. Mas todos podem ajudar a escrevê-la. Uma eleição é uma dessas oportunidades. Um momento em que, apoiando ou repudiando diferentes visões e projetos, ajudamos a traçar um rumo.  Abdicar de votar é abdicar de influenciar decisões que se irão repercutir nas nossas vidas. 

Compreendo a descrença que muitos de vós sentirão em relação aos partidos políticos. Num país onde 30% dos jovens emigram, onde 23,5% dos que ficam enfrentam o desemprego, onde muitos outros se debatem com situações de precariedade e de falta de respostas, nomeadamente para o problema da habitação, é fácil deixar de saber em quem confiar. E é fácil deixarmo-nos seduzir por aqueles que nos apresentam diagnósticos simplistas e nos prometem soluções imediatas.  

Há dias, foram revelados estudos indicando que, quanto mais novos os eleitores, mais provável é que estes se abstenham ou votem nos populistas. Como política, sinto que, mais do que lamentar estes indicadores, cabe à minha classe, e em especial aos partidos tradicionais, saber interpretá-los e dar os passos necessários para os inverter. Porque, na política, devemos trabalhar para responder aos desafios do presente, mas também, sobretudo, para construir um melhor futuro para todos, e em especial para os jovens, que o irão herdar.

Também não tentarei dizer-lhes em quem não votar. Mas permito-me pedir-lhes que, antes dessa tomada de posição, se certifiquem de quais são as propostas e o pensamento daqueles em quem contemplam depositar a vossa confiança. Que procurem a substância para lá dos soundbites e dos vídeos virais nas redes sociais. Que vejam as pessoas e as ideias reais por trás das campanhas e das imagens mais ou menos trabalhadas.

O que dizem estas pessoas sobre o combate às alterações climáticas? Como encaram o tema da igualdade de género? Que importância atribuem à educação, ao conhecimento, ao primado da verdade e dos factos sobre o “achismo”.

O mundo está cheio de gente capaz de argumentar, de forma altamente convincente, que a Terra é plana. Mas nenhuma dessas pessoas fará com que esta deixe de ser redonda. Nenhuma dessas pessoas tornará real o ilusório. E quando o diagnóstico é errado à partida, as soluções propostas também o são.

O direito à opinião e à escolha devem ser livres, mas sem verdadeira informação essa liberdade é apenas ilusória. Por isso, não abdiquem de exigir, não abdiquem de contestar, mas, acima de tudo, não abdiquem de questionar.

 

Leia o artigo completo no site do Diário de Notícias, clicando aqui.

Atenção, o seu browser está desactualizado.
Para ter uma boa experiência de navegação recomendamos que utilize uma versão actualizada do Chrome, Firefox, Safari, Opera ou Internet Explorer.