Imprensa Carregador único - Sinal vermelho ao desperdício

Artigos de Opinião | 05-10-2022 in Diário de Notícias

Nesta terça-feira, em Estrasburgo, o Parlamento Europeu aprovou em votação final a lei que estabelece uma solução única de carregamento para todos os telemóveis e outros equipamentos eletrónicos de pequena e média dimensão, como tablets, máquinas fotográficas digitais e auriculares. Até ao final de 2024, todos os novos equipamentos com estas características terão de estar equipados com uma porta de carregamento USB tipo C, aquela que se convencionou adotar como solução comum. Os computadores portáteis também serão abrangidos, mas terão um prazo de adaptação de 40 meses.

Este passo poderá parecer a alguns uma gota de água no oceano de desafios com os quais a União Europeia se debate atualmente, desde logo a guerra na Ucrânia e a crise energética por esta dramaticamente agravada. No entanto, antes de arrumarmos o tema na prateleira dos "fait-divers", talvez faça sentido refletir sobre o que custou, o que significa e o que diz sobre a Europa esta decisão.

Em primeiro lugar, refletir sobre o que foi o processo político aqui envolvido. Ao longo de uma década, o Parlamento Europeu, e em particular a Comissão do Mercado Interno e da Proteção dos Consumidores, à qual me orgulho de pertencer, bateu-se intensamente junto da Comissão Europeia e dos operadores do mercado para que chegasse este momento. Ouvimos todos os argumentos contrários. Houve quem chegasse a defender que uniformizar a forma como fornecemos energia aos equipamentos iria condicionar a capacidade de inovação das empresas do setor. Ao intervir num mercado que é global, enfrentámos objeções técnicas, jurídicas e até diplomáticas para fazer este dossiê avançar. Mas a posição da União Europeia prevaleceu.

Quando falamos da ambição de termos "mais Europa", é precisamente a isto que nos referimos. A fazermos valer a nossa força comum, muito superior ao poder individual de cada estado-membro, para defendermos intransigentemente os direitos das cerca de 450 milhões de pessoas que vivem nesta União, contribuindo de uma forma palpável para a melhoria das suas vidas. A decisão tomada nesta terça-feira em Estrasburgo é um exemplo da afirmação, entremuros e a nível global, que queremos cada vez mais para a União Europeia. E é também um indicador do impacto que pode ter um Mercado Único Europeu fortalecido.

Em termos práticos, para os cidadãos europeus, o carregador único significa menos despesa a adquirir e substituir estes equipamentos. Significa ver a vida facilitada, com o fim da miríade de diferentes cabos que todos transportamos de um lado para o outro ou acumulamos nas gavetas de casa. E para o ambiente, para a defesa das nossas políticas de sustentabilidade, significa menos lixo eletrónico para processar, menos matérias-primas, muitas destas escassas, para obter, com a correspondente poupança em termos de emissões de CO2.

Para que se perceba melhor do que falo, estão em causa poupanças estimadas de cerca de 250 milhões de euros anuais para os consumidores e a redução drástica de lixo eletrónico que totaliza cerca de onze mil toneladas todos os anos.

A poupança, a aposta na chamada economia circular, na capacidade de reparar, reciclar e reutilizar dispositivos, são frentes muito importante do Pacto Ecológico Europeu. E a interoperabilidade dos equipamentos será decisiva. Todos sabemos que não podemos continuar a gastar, a consumir energia e a poluir como vínhamos fazendo. A transição verde será concretizada com uma forte aposta na ciência e na inovação, que nos trarão novas soluções, mas também com uma mudança dos nossos comportamentos individuais e coletivos.

A adoção do carregador único representa um passo concreto na direção certa. Significa um sinal vermelho ao desperdício sem sentido. Uma indicação clara a todos os que operam ou querem operar no mercado europeu daquilo que é preciso respeitar para aqui estar.

 

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