Imprensa Água. Desafios, soluções e o papel de Portugal

Artigos de Opinião | 06-09-2023 in Diário de Notícias

A água, desde as questões das secas no Sul da Europa à necessidade de conservação e valorização dos oceanos, rios e lagos, incluindo dos seus ecossistemas, é um dos grandes desafios dos nossos tempos. Esta tendência só tenderá a acentuar-se no futuro. Para encontrarmos soluções que nos permitam combater e reverter as consequências das alterações climáticas, preservando ao mesmo tempo as inúmeras atividades humanas que dependem deste recurso essencial, precisamos de uma estratégia clara e fundamentada e de soluções criativas. E a única forma de o conseguirmos é investindo de forma decidida nas atividades de investigação científica e de inovação.

Foi esta convicção que me levou a propor, na qualidade de relatora da agenda estratégica do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia (EIT, na sigla inglesa), a criação de uma Comunidade de Conhecimento e Inovação (KIC) inteiramente dedicada à Água, Recursos Marinhos e Marítimos e Ecossistemas. Esta comunidade ficou consagrada no acordo que foi possível alcançar para a nova agenda do EIT, ficando a faltar o mais importante, que é o seu lançamento. Mas lá irei. Para já, impõe-se uma breve descrição deste instituto e do papel que desempenha nas políticas científicas europeias.

Com um orçamento de quase três mil milhões de euros, para o período 2021-27, o EIT é uma das peças fundamentais do atual programa-quadro dedicado à Ciência e Inovação, mais concretamente do chamado Pilar 3, intitulado Europa Inovadora. Através das suas comunidades de conhecimento e inovação, dedicadas a temas como o Clima, a Energia, o Digital, as Manufaturas ou os Alimentos, o EIT procura soluções concretas para desafios específicos dos nossos tempos.

Uma das particularidades da filosofia destas KIC, que funcionam de forma autónoma e descentralizada em relação ao Instituto, é o facto de combinarem os três vértices do chamado triângulo do conhecimento - Educação, Investigação Científica e Inovação. Universidades, centros de investigação e empresas, nomeadamente startups, trabalham em conjunto em todas as etapas de um processo que começa na investigação fundamental e termina na disponibilização de novos produtos e serviços.

Esta forma de organização, que é única no conjunto da atividade científica financiada pela União Europeia, encaixa perfeitamente na visão holística que é necessária para que a Europa tenha uma verdadeira estratégia para a água. Já existem inúmeras iniciativas e projetos científicos que se dedicam a temas específicos, como a busca de soluções para a agricultura face à escassez de água ou a proteção da biodiversidade marinha. Mas não existe ainda uma entidade única que reflita e procure responder à importância e à diversidade de desafios, frequentemente interligados, da água.

Nesta terça-feira, no Parlamento Europeu, ficámos mais próximos de dar esse salto. Durante uma audição com a comissária europeia designada Iliana Ivanova, que deverá substituir a sua compatriota búlgara Mariya Gabriel nos pelouros da Ciência e Inovação, recebi da parte desta a garantia de que tudo fará para agilizar o lançamento, já no próximo ano, da chamada Water KIC.

Quando esse facto for finalmente dado, e começar o processo de candidaturas aos diferentes programas e projetos desta nova entidade, espero sinceramente que as entidades portuguesas se mobilizem para integrar, e até liderar, os consórcios que se irão formar. Pelo que o nosso país tem a ganhar com isto, o que é muito, mas também pelo que tem a dar com o conhecimento, experiência e capacidade científica que temos em todos os temas relacionados com a água.

 

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