A Comissão da Indústria, da Investigação e da Energia (ITRE) realizou esta terça-feira, dia 13 de abril, uma audição pública sobre a descarbonização no sistema de energia e ouviu cinco especialistas da área: Camilla Palladino (Vice-presidente Executiva de Estratégia Corporativa e Relações com Investidores, SNAM, Itália), Nelson Lage (Presidente do Conselho de Administração, Agência Portuguesa para a Energia, ADENE, Portugal), Martin Neubert (Vice-Presidente Executivo, Ørsted, Dinamarca), Mark Jacobson (Professor de Engenharia Civil e Ambiental e Senior Fellow no Woods Institute for the Environment, Stanford University), Stavroula Pappa (LLM, gerente de projeto, Federação Europeia de Cooperativas Cidadãs de Energia : REScoop.eu). No decorrer desta audição, Maria da Graça Carvalho, eurodeputada e vice-coordenadora do PPE na ITRE, questionou os especialistas sobre o tema em causa.
Perguntas da eurodeputada Maria da Graça Carvalho
"Muito obrigada. Tenho um comentário e duas perguntas. Gostaria de reforçar o papel da investigação, da inovação e da tecnologia para ter energia limpa, mais acessível e mais barata para todos. Queria lembrar o papel das parcerias público-privadas no Horizonte Europa, da qual sou relatora, pois penso que são iniciativas importantes para atingir esse objetivo. Sobretudo a do hidrogénio, a da economia circular, da aviação limpa, das tecnologias digitais chave e a destinada ao 5G e ao 6G. Queria fazer duas perguntas: Qual é o papel do armazenamento? Quais são as melhores opções tecnológicas para armazenar energia? E também queriam que falássemos sobre a produção energética: centralização versus descentralização. Saber quais são talvez as tecnologias negativas? O que vemos é que, na última fase da descarbonização, temos que optar por tecnologias, chamadas negativas. Queria saber quais são as opções? Captura de carbono, captura direta de ar, produção combinada biomassa, sistemas relacionados com o hidrogénio? Quais são possibilidades? Muito obrigada".
Resposta de Camilla Palladino
(SNAM)
"Em relação ao papel da investigação e à necessidade de armazenamento: acreditamos que esta necessidade deve aumentar cada vez mais, à medida que utilizamos mais energias renováveis. Em relação a este papel, vai haver um leque de diferentes tecnologias, nomeadamente se estamos a pensar de forma sazonal. Por exemplo, no inverno, o papel do biometano, do hidrogénio, dos biogases, vai ser extremamente importante para equilibrar esta procura sazonal. Em relação aos modelos descentralizados, há já diferentes modelos para atender a diferentes situações, de forma geral. Olhando para o hidrogénio, o seu preço vai depender muito do custo da eletricidade, de fontes renováveis, que pode ser produzida. O acesso a esta eletricidade vai ser chave. Os custos de distribuição ou de transporte vão ser bastante reduzidos, em relação à rede europeia, dada a existência já das infra-estruturas. Será, portanto, uma opção mais barata para os consumidores".
Resposta de Nelson Lage
(ADENE)
"Muito obrigada. Em relação ao papel da investigação e da inovação, é algo extremamente importante, sobretudo se queremos mais tecnologia para termos novos vetores no sistema energético, digitalização, novas estratégias, temos que investir mais na investigação e na inovação. Em relação ao armazenamento, isto será um aspeto importantíssimo, pois para alcançarmos os objetivos em termos de energias renováveis, precisaremos de ter capacidades de armazenamento reforçada. Portanto, tem que ser feito investimento no armazenamento. Nós, em Portugal, temos um estudo sobre as tecnologias de armazenamento, precisamente porque este parece ser o rumo que temos seguir já. Em relação a centralização ou descentralização, tanto uma como outra são importantes, ambos os modelos são pertinentes. O primeiro tem que ver com grandes investimentos. O descentralizado foca-se nas pessoas. Devemos considerar ambas as opções e ultrapassar barreiras existentes, que podem ainda entravar a descentralização. Devemos envidar esforços para melhorar as possibilidades deste setor. Em relação às tecnologias negativas, penso que a digitalização vai contribuir para a melhoria deste aspeto, a investigação também. Temos que fazer um esforço para ter
mais investigação".
Resposta de Martin Neubert
(Ørsted)
"Em relação às tecnologias negativas, nós utilizamos biomassa sustentável para produzir calor, para o aquecimento urbano e isso é necessário para alcançarmos a neutralidade. Temos que fazer a diferença entre queimar carvão ou combustíveis fósseis para produzir calor ou aquecimento, já que isso emite CO2 para a atmosfera, que de outra forma seria armazenado na terra para sempre. Por isso usamos a biomassa. Queremos reduzir e neutralizar todos os resíduos que, de outra forma, são utilizados para construir edifícios e móveis. Se não, ficaria em degradação na floresta. Em relação à captura do carbono, não vemos isso com bons olhos, parece-nos que não é uma perspetiva real, por exemplo para o hidrogénio azul. Parece-nos que o custo do hidrogénio verde renovável pode ser reduzido substancialmente, se houver financiamento suficiente para as tecnologias. O que me leva à questão: para onde se deve direcionar o financiamento, a fim de apoiar a transição verde na Europa? Quando falamos do hidrogénio renovável, parece-nos que é aí que a UE tem de investir as suas verbas".
Resposta de Mark Jacobson
(Universidade de Stanford)
"Em relação às tecnologias negativas, nós apenas aprovamos tecnologias naturais, como a redução da desflorestação, quando precisamos de equipamento para captura e isso sempre consome energia. Trata-se de um custo adicional. A energia, se é a partir de combustível fossil, estamos a criar mais poluição. Se são renováveis, as energias renováveis não podem substituir os combustíveis fósseis. Temos um estudo em que não há nenhuma situação em que o armazenamento do carbono é mais benéfico do que utilizar as verbas para investir em renováveis e estas substituirem os combustíveis fósseis. Portanto, tirar o carbono do ar é exatamente o mesmo do que evitar as emissões e aí podemos evitar também outras poluições, como a mineração etc… Em relação ao armazenamento, temos de calor, frio, eletricidade e hidrogénio. Claro que isso é caro. Podemos armazenar calor também de forma subterrânea, através de poços ou furos. Em relação ao armazenamento de eletricidade, se as baterias podem chegar a 50 euros por kW/hora, então isso vai fazer toda a diferença. Não sei qual é que deveria ser a meta, penso que entre 100 e 150, talvez até 200 dólares por kW/hora, mas penso que, em larga escala, uma meta de 50 euros por kW/hora é um bom objetivo. O aquecimento urbano vai ter um papel essencial, sobretudo na Europa, 50% do aquecimento é aquecimento urbano. Podemos fazer muito a nível desse aquecimento, mas também do aquecimento individual dos edifícios. Centralização vers descentralização: vamos precisar de ambas. Seja de painéis solares nos telhados, seja unidades fotovoltaicas de grande escala, seja instalações offshore".
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