Os eurodeputados na Comissão FEMM – Direitos das Mulheres e Igualdade dos Géneros chegaram hoje a um amplo entendimento em torno do relatório: "Closing the digital gender gap", sobre a participação das mulheres na economia digital, da autoria da eurodeputada do PSD Maria da Grava Carvalho.
Após uma reunião com os relatores-sombra, pela manhã, na qual foram analisadas um total de 201 emendas propostas pelas diferentes famílias políticas do Parlamento Europeu, a versão final do documento, já contemplando cerca de duas dezenas de alterações, foi discutida da parte da tarde na FEMM.
Para Maria da Graça Carvalho, as mais de duas centenas de contributos recebidos constituíram “motivo de grande satisfação, porque vieram demonstrar que este é um tema que suscita grande interesse na Europa, porque diz respeito a todos os cidadãos europeus, não apenas às mulheres”. “Fiquei igualmente satisfeita por termos conseguido chegar a um consenso em torno do que eram os objetivos centrais do relatório: chamar a atenção para o menor envolvimento das mulheres na economia digital, que pode traduzir-se numa nova forma de discriminação, e apresentar um conjunto de medidas para combater esse fenómeno”.
Também na Comissão FEMM, foram ouvidas nesta tarde mulheres que ocupam posições de destaque, a nível mundial, nas áreas da economia digital. Entre as quais, por proposta de Maria da Graça Carvalho, Manuela Veloso.
Esta cientista portuguesa, durante mais de duas décadas professora de Ciências da Computação da Universidade de Carnegie Melon, dos Estados Unidos, e atualmente diretora do Departamento de Inteligência Artificial (IA) na J.P. Morgan Chase, falou nas novas tecnologias, com enfâse na IA, referindo que a mesma abrange inúmeros aspetos, “muitos dos quais podem ser apaixonantes para as mulheres”, desde questões ligadas “a linguagem” ou “imagens” à “machine learning” (aprendizagem automática). “O primeiro objetivo para nós, enquanto mulheres investigadoras e comunicadoras, deve ser desmistificar esta ideia de que a IA é apenas uma coisa. Se apresentarmos esta imagem integrada da IA, talvez muitas mais mulheres, e talvez muito mais minorias, sintam que isto é algo que esta ao seu alcance”, defendeu.
No relatório: "Closing the digital gender gap" são apresentados vários fatores, nomeadamente culturais, que levam a que, por exemplo, segundo o Eurostat, as mulheres representem apenas 17% dos inscritos em cursos das chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) na União Europeia (12% em Portugal).
É igualmente explicado que, mesmo entre as mulheres que optam por estas vias, muitas acabam por abandoná-las, tanto enquanto estudantes como na altura de entrar no mercado de trabalho, num fenómeno conhecido por “leaky pipelines”. E são enumeradas as consequências dessa sub-representação, tanto no que respeita ao acesso ao emprego, num mercado valorizado e bem remunerado, como no desperdício de talento para a sociedade em geral.
O relatório aponta depois várias estratégias que poderão ser seguidas para inverter a atual realidade, desde ações – em todos os níveis de ensino – dirigidas a atrair mais raparigas para as novas tecnologias, ao papel dos setores dos media, da cultura e do audiovisual, sem esquecer as empresas. Aborda ainda outras questões, como o cyberbullying.
Refira-se ainda que está a decorrer a Semana da Igualdade de Género no Parlamento Europeu, sendo a primeira vez que acontece uma iniciativa do género em Bruxelas.