Maria da Graça Carvalho, eurodeputada, vice-presidente da Comissão das Pescas e embaixadora do Projeto Ericeira WSR+10, participou esta quarta-feira na conferência "Por uma Reserva Mundial de Surf mais Sustentável", destinada a focar as diferentes linhas de acção que caracterizam a sustentabilidade e as potencialidades do oceano e do surfing enquanto ferramentas de promoção da sustentabilidade ambiental, social e económica, sob a forma de operacionalização e concretização dos objectivos do desenvolvimento sustentável.
Face aos desafios que a Europa enfrenta, nomeadamente no que toca às metas de praticamente zero emissões de CO2 até 2050, é preciso inovar, disse a eurodeputada, numa intervenção que fez online, a partir de Bruxelas. "Inovar através da investigação científica, de forma a desenvolvermos as tecnologias que nos permitam substituir as atuais, com sustentabilidade, mas sem perda de qualidade de vida. Tecnologias que nos deem energia limpa e acessível, que nos permitam criar o avião do futuro, com níveis de emissões muito reduzidas. E também mudar a forma como produzimos os nossos alimentos, os medicamentos, os equipamentos tecnológicos, as roupas que vestimos. Inovar também ao nível das atividades humanas, diversificando a forma como criamos riqueza e gerimos os recursos. Neste desígnio, os nossos oceanos têm um papel fundamental a desempenhar. Atualmente, a poluição, a pressão urbanística nas zonas costeiras, a alteração das temperaturas médias, a pesca não sustentável de diversas espécies, são exemplos de ameaças à saúde dos nossos ecossistemas marinhos que temos de combater. E a melhor forma de o fazermos, na minha opinião, é mobilizarmos as populações costeiras, aqueles que vivem do mar, para a importância da sua proteção".
Na Comissão das Pescas do Parlamento Europeu, realçou, uma das "minhas prioridades é contribuir para o desenvolvimento de tecnologias e de atividades ligadas à economia do Mar que nos permitam substituir algumas das atuais, que já deixaram de ser sustentáveis. Fui também relatora, pelo Parlamento Europeu, da agenda estratégica de Inovação do Instituto Europeu de Inovação e Tecnologia. Este instituto organiza-se em comunidades de conhecimento e inovação que combinam as universidades, os centros de investigação e as empresas. E uma das novas comunidades que conseguimos ver aprovada diz respeito à água, incluindo todos os recursos hídricos e marinhos".
Maria da Graça Carvalho sublinhou na sua intervenção que "os oceanos têm um enorme potencial, e não apenas como fonte de alimento. Vários outros setores ligados ao mar conjugam um elevado potencial em termos de criação de emprego e de riqueza com uma pegada ambiental reduzida, ou até mesmo nula. O surf é claramente um destes. Um surfista precisa essencialmente de uma prancha e de boas ondas. Talvez de um fato se a água estiver muito fria. Se lhe derem isto, irá aonde for preciso para viver a sua paixão. Não polui, não destrói. Apenas disfruta. E cria riqueza, ao ponto de esta ser uma indústria bilionária a nível mundial. Mais do que isso, os surfistas, pelo seu contacto direto com a natureza, tornam-se seus grandes defensores. Protegemos o que amamos, lutamos pelo que não aceitamos perder. Por isso, quem cresce com esta envolvente, tem mais probabilidades de se tornar num defensor, não apenas dos oceanos, mas do planeta. Alguém que vê o potencial de preservar em vez de apenas usar e gastar".
A organização que promove este evento é um exemplo desse sentimento na comunidade ligada ao surf, considerou. "Tal como o é o Ericeira Surf Club, que conseguiu recentemente ver a Comissão Europeia aprovar-lhe um projeto muito interessante, no âmbito do Programa Erasmus+. E poderia referir muitos casos de surfistas que, por esse país fora, a título individual ou associados, se batem publicamente pela defesa do património natural das suas terras", disse a ex-ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior. "A reserva mundial do surf da Ericeira – uma das primeiras no mundo e até agora a única na União Europeia – existe há pouco mais de dez anos. E é notável testemunhar o impacto que esta atividade teve na vila e na economia do concelho de Mafra. Tal como a Nazaré começa a beneficiar da descoberta do seu famoso “canhão” pelos surfistas internacionais amantes de grandes ondas", realçou a eurodeputada do PPE e vice-presidente da Comissão das Pescas no Parlamento Europeu.