Maria da Graça Carvalho participou esta segunda-feira, dia 29 de março, na conferência online "Cimentar o Futuro", organizada pela Associação Técnica da Indústria de Cimento (ATIC), em conjunto com as suas associadas CIMPOR e SECIL, na qual foi apresentado o Roteiro da Indústria Cimenteira para a Neutralidade Carbónica 2050. A eurodeputada do Partido Popular Europeu (PPE), ex-ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior, foi uma das personalidades convidadas a intervir no painel intitulado “Transição Energética e Descarbonização: eficiência, competitividade e inovação”.
O roteiro para a neutralidade carbónica desenvolvido pela ATIC está, segundo a eurodeputada, bem estruturado, é realista e, simultaneamente, ambicioso. "Penso que a meta de reduzir 48% das emissões de CO2 até 2030, sem o recurso a tecnologias disruptivas, é bastante razoável. É referido no relatório, no balanço das reduções alcançadas entre 1990 e 2017, que a diminuição de clinquer no cimento e o maior recurso a combustíveis alternativos aos fósseis foram muito importantes neste processo. Permitiram que se reduzisse as emissões em mais de 14% neste período. É a minha convicção que o caminho, até 2030, será feito muito com base em tecnologias já disponíveis. Tendo em conta o ritmo de redução que será exigível – e é preciso ter em conta que já nos encontramos a menos de nove anos do final desta década – estas tecnologias terão de ser massificadas muito rapidamente. Penso ser muito positiva a aposta na biomassa, a qual terá um papel fundamental para toda a indústria nesta transição. Em especial para as indústrias com elevado consumo de energia, como é o caso. Embora não seja uma fonte de energia renovável, a biomassa traz um enorme valor acrescentado ao nível das reduções de emissões", considerou Maria da Graça Carvalho. "Passando ao período após 2030, e tendo em conta as metas para 2050 e mais adiante, aí teremos claramente de recorrer a tecnologias que, atualmente, ainda estão numa fase embrionária, são apenas conceptuais, ou nem sequer foram ainda inventadas. Só assim chegaremos a zero emissões ou mesmo a emissões negativas. Tecnologias como o hidrogénio têm, no entanto, de começar a ser desenvolvidas no imediato, para que sejam uma solução no médio prazo", sublinhou.
Maria da Graça Carvalho destacou algumas iniciativas europeias em curso, como o Green Deal, o Horizonte Europa, de cujas parcerias é relatora pelo Parlamento Europeu. Nessa nova geração de parcerias, notou, incluem-se iniciativas ligadas à área do hidrogénio e da biomassa. O esfoço pela neutralidade carbónica, afirmou, tem que passar forçosamente por "mais investimento na área da investigação e da inovação". Esse investimento, frisou, deve existir tanto no setor público, como no privado, deve conjugar os vários tipos de investimento existentes. Não pode, por isso, "falhar a ambição, a aposta na inovação, na investigação, na tecnologia. É importante ter menos burocracia para aplicar os financiamentos, tanto no que diz respeito à Administração Pública portuguesa, como à europeia".
Num dos vários momentos da sua intervenção neste debate, a ex-ministra da Ciência, Inovação e Ensino Superior disse estar "de acordo com a ATIC, no sentido de que precisamos de ter um level playing field, a nível global, que valorize e proteja quem está a fazer esforços sérios para assegurar a sustentabilidade do nosso planeta. Não seria justo, nem admissível, que a indústria europeia, fazendo um esforço tão grande, se visse depois confrontada com a concorrência de produtos mais baratos, produzidos fora do espaço europeu, por quem nada fez para se adaptar a estes novos tempos. Concordo com os benefícios da promoção de um selo “verde”, associado a quem respeita estas regras". Porém, em seu entender, isso não é suficiente. "Teremos de alcançar acordos internacionais nesta matéria".
No painel “Transição Energética e Descarbonização: eficiência, competitividade e inovação”, moderado pela jornalista da SIC Patrícia Carvalho, intervieram também Carlos Zorrinho, eurodeputado do grupo S&D, Nuno Lacasta, presidente do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente e Otmar Hubscher, CEO da empresa Secil. No evento "Cimentar o Futuro" participaram ainda personalidades como os ministros do Ambiente e Ação Climática e da Economia e Transição Digital, respetivamente, João Pedro Matos Fernandes e Pedro Siza Vieira, Carlos Moedas, ex-comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação e Gonçalo Salazar Leite, presidente da ATIC.
CLIQUE AQUI PARA ACEDER AO VÍDEO COMPLETO DO EVENTO