O povo ucraniano é o grande vencedor do Prémio Sakharov 2022, atribuído pelo Parlamento Europeu. Não é muito comum distinguir-se toda uma comunidade num prémio que valoriza o livre pensamento e a luta pelos Direitos Humanos. Ao longo dos anos, tem quase sempre existido um rosto associado a esta iniciativa. Desde Nelson Mandela, em 1988, a Alex Navalny, no ano passado, numa lista com muitos nomes facilmente reconhecíveis, como Malala Yousafzai, Denis Mukwege e Nadia Murad.
Talvez por isso, também neste caso, tenham sido escolhidos alguns "rostos" para representar a coragem do povo ucraniano, como o do seu Presidente Volodymyr Zelensky e de dirigentes de organizações da sociedade civil que têm estado no terreno a salvar vidas e a documentar abusos para memória futura. Mas não existem dúvidas de que este prémio é mesmo atribuído a todo um povo que, na sua recusa em claudicar, não apenas fica mais próximo de reconquistar a sua liberdade, como nos inspira a todos a não deixarmos de nos bater pelo que está certo.
Este tem sido, aliás, um ano em que as grandes lições de coragem têm vindo mais de grupos do que de indivíduos. A oposição democrática bielorrussa, com tantas mulheres e tantos homens atualmente privados da sua liberdade, porque decidiram ficar e lutar em vez de procurarem segurança noutro lado. O Irão, onde homens e mulheres, de todas as faixas etárias e setores da sociedade, mesmo de círculos próximos do poder, estão a arriscar, e muitas vezes a pagar com a própria vida, porque já não suportam viver sob um código de conduta medieval.
Por vezes surgem indivíduos cuja determinação move montanhas. Por vezes essa mobilização surge em toda uma comunidade. Em ambos os casos, é demonstrado que os povos e as nações não são espelhos das suas lideranças. Que os russos, os bielorrussos, os iranianos, os afegãos, não são iguais aos seus líderes. Que a forma como alguns exercem o poder que lhes chegou às mãos não é a expressão da vontade da comunidade onde se inserem.
E o mesmo se aplica a países e instituições tidos por livres e democráticos onde surgem indivíduos suspeitos de condutas que violam os valores que se comprometeram a defender.
A respeito das notícias vindas a público nos últimos dias, direi apenas que é dever de todos os membros eleitos do Parlamento Europeu serem exemplos de integridade e de independência perante todo o tipo de pressões. O Parlamento Europeu é a única instituição da União Europeia cujos membros são eleitos por sufrágio universal, representando diretamente os cidadãos deste espaço comum que partilhamos. Se os factos confirmarem, como parece que farão, que a independência desta casa foi testada por forças externas, estou certa de que faremos tudo o que esteja ao nosso alcance para garantir que um episódio como este não volte a suceder. Estou certa de que não permitiremos que a imagem desta instituição seja manchada por este episódio e que, no final, sairemos do mesmo mais fortes e melhor preparados.
Porque o Parlamento Europeu - e disso não podem haver dúvidas - é uma instituição ao serviço do bem. Tendo passado pela Comissão Europeia, com o Presidente Durão Barroso e, mais tarde, com o comissário Carlos Moedas; tendo estado diretamente envolvida no Conselho, como ministra de dois governos de Portugal; sempre vi no Parlamento Europeu a expressão mais pura do projeto europeu. Um espaço plural, onde 705 deputados, de 27 estados-membros, distribuídos por sete grupos políticos, constroem todos os dias pontes para servir o interesse comum.
Por isso, exijam-nos mais. Exijam-nos melhor. É justo que o façam e cabe-nos corresponder. Mas não confundam o todo que é o Parlamento Europeu com as agendas egoístas de alguns. Não confundam esta casa da liberdade e da democracia com aqueles que a tentam corromper.
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