Ao longo dos anos, desde que o Dia da Europa foi oficialmente consagrado no Conselho Europeu de Milão, em 1985, a relevância dada à celebração de 9 de maio, tanto ao nível das instituições europeias como dos Estados-membros, tem oscilado consideravelmente. No fundo, refletindo as próprias oscilações no entusiasmo dos diferentes países e dos seus cidadãos em relação a este projeto europeu. Em 2020, com a concretização do Brexit em fevereiro, não faltou mesmo quem acreditasse e defendesse que a União Europeia estava numa encruzilhada, pondo em causa a sua continuidade futura. A verdade é que, desde então, têm-se sucedido as provas do contrário.
A resposta à pandemia de covid-19, em particular a decisiva articulação na compra das vacinas e nos certificados digitais covid, bem como o passo inédito que foram os planos de recuperação e resiliência baseados em dívida conjunta, veio demonstrar não apenas a legitimidade, mas o valor acrescentado que nos traz o facto de integrarmos esta aliança de nações. E a forma decidida e coerente com que os Estados-membros e as instituições europeias responderam à invasão da Ucrânia pela Rússia, tal como se estão a unir no apoio à população daquele país, e como estão a trabalhar em conjunto para gerir os efeitos colaterais desta guerra, prova inequivocamente a importância daquele dia 9 de maio de 1950, em que Robert Schuman compareceu no o Salão do Relógio do Quai d"Orsay, em Paris, com uma proposta que a muitos terá parecido mirabolante.
Vale a pena recordar os valores que ficaram desde logo inscritos na matriz daquele sonho que daria lugar à Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e depois à Comunidade Económica Europeia e à União Europeia: paz, solidariedade, desenvolvimento económico e social, equilíbrio ambiental e regional.
Ao longo dos anos, a construção deste projeto europeu tem conhecido altos e baixos, tem conjugado conquistas inegáveis com algumas desilusões e objetivos ainda por alcançar. Mas todos os sobressaltos nos têm ajudado a avançar. A pandemia deu origem a um debate, atualmente em curso, sobre o reforço da cooperação europeia na área da Saúde, do qual o primeiro sinal foi a criação da Autoridade de Preparação e Resposta a Emergências Sanitárias (HERA). A situação na Ucrânia colocou a soberania energética europeia no topo das prioridades, e o pacote legislativo REPowerEU é um primeiro passo nesse sentido.
Hoje, arrisco, arrisco dizê-lo, são muito mais os que defendem o projeto europeu do que os que o questionam. E entre os primeiros, as novas gerações estão fortemente representadas. Os jovens que nasceram na União Europeia, que se habituaram a viajar livremente entre Estados-membros, que estudaram, trabalharam, fizeram amigos e contactos para a vida noutros países da União. Os mesmos jovens que veem neste projeto a melhor ferramenta de que dispomos para construir um futuro com sustentabilidade ambiental, mas também com mais e melhores oportunidades, com mais inovação, mais justiça social e de género, menos extremismos e nacionalismos bacocos, mais paz.
A voz destes jovens, mas também as vozes de cidadãos de todas as idades, bem como de centenas de organizações da sociedade civil, de representantes de todos os setores, da Saúde à Educação, da Cultura às empresas, têm-se feito ouvir no âmbito da Conferência sobre o Futuro da Europa. Nesta segunda-feira, nas comemorações do Dia da Europa, foram entregues 49 propostas finais. O meu colega Paulo Rangel, que tem sido um dos grandes impulsionadores desta iniciativa desde a primeira hora, conta-me que a dificuldade não tem sido mobilizar os europeus para este debate, mas, pelo contrário, gerir a extraordinária quantidade e qualidade dos contributos recebidos. A Europa está bem viva.