Sustentei recentemente, num artigo escrito em conjunto com J. Rifkin para a European Energy Review, que o mundo se encontra no limiar da terceira revolução industrial. Este fenómeno mundial caracteriza-se pela convergência entre as redes de comunicação globais e as novas formas de produzir, distribuir e armazenar energia. É razoável esperar que esta convergência venha a ter, no século XXI, um impacto económico tão poderoso ou maior do que tiveram a primeira revolução industrial, no século XIX, e a segunda revolução industrial no século XX. Estas duas últimas ocorreram, respectivamente, em resultado da convergência entre as tecnologias de impressão e a máquina a vapor, baseada no carvão, e da convergência entre as comunicações assentes na electricidade e o motor de explosão, movido a gasolina.
A Europa está relativamente bem posicionada no sector das energias limpas. Mas estudos recentes indicam que a China tem vindo a impor-se como líder global na produção de energia eólica e solar fotovoltaica. Se a Europa nada fizer nos próximos tempos, perderá a sua posição de vanguarda e, depois, terá muita dificuldade em recuperá-la na concorrência com as economias emergentes, muito dinâmicas e competitivas.
Apesar de não estarem tão adiantados como a Europa, os Estados Unidos também pretendem disputar a liderança neste sector. Mostra-o o repto lançado por Barak Obama, no seu discurso do Estado da União, exortando a nação americana a reafirmar a sua liderança no mundo através duma aposta forte e corajosa na inovação centrada, sobretudo, no desenvolvimento das tecnologias de produção de energia limpa e renovável. Segundo o Presidente americano "a nação que vier a liderar a economia da energia limpa, será a nação que virá a liderar a economia global". E a ideia de Obama foi desafiar os Estado Unidos a serem essa nação.
Se tudo isto representa um desafio relativamente recente para os Estados Unidos, já na Europa, o papel das energias limpas e renováveis, enquadrado no combate às alterações climáticas e nas políticas de crescimento económico sustentável, faz parte de uma visão de futuro acalentada há anos por várias organizações e instituições europeias. Mas a esta visão falta ainda a veemência, a ousadia e a ambição de uma liderança forte.
Prova-o o último Conselho Europeu de 4 de Fevereiro que não abordou as questões decisivas da inovação e da produção de energias limpas, tão importantes para a criação de emprego e para a competitividade da economia europeia.
A próxima oportunidade será o Conselho Europeu de 24 a 25 de Março. Cada dia que passa torna as acções necessárias para alcançar uma posição de liderança na economia global mais ousadas e dispendiosas. Os europeus exigem e merecem que o Conselho Europeu de final de Março debata de forma aprofundada um novo modelo económico de crescimento para a Europa. Um modelo de crescimento que permita à Europa assumir a liderança da terceira revolução industrial e assim tornar-se um farol de esperança para todo o mundo, à semelhança do que aconteceu no limiar do século passado.