AEstratégia Industrial Europeia é imprescindível para o relançamento da economia depois da crise causada pela pandemia de COVID-19.
Portugal, que já perdeu o comboio de algumas "revoluções industriais", com consequências que se fizeram sentir até aos dias de hoje, não pode desperdiçar esta oportunidade. É altura de o país fazer valer o privilégio que constitui pertencer a um Mercado Único Europeu, de encontrar caminhos dentro dos grandes pilares Verde e Digital que irão nortear esta estratégia, e de criar condições para que as suas empresas e a sua indústria reclamem o seu espaço na Europa.
As possibilidades estão lá, numa Europa que, pretendendo ser mais resiliente - depois de a pandemia ter tornado clara a excessiva dependência externa de alguns setores -, precisará de produzir localmente muito do que antes importava de outras paragens. Uma Europa que, querendo descarbonizar a sua economia, passará a olhar mais para a fatura ambiental dos bens que importa e não apenas para o seu preço. Mas conseguir aproveitá-las não será fácil.
A estratégia do Comissário Thierry Breton, um homem com ampla experiência na indústria e nas empresas, baseia-se numa visão muito prática daqueles que são os desafios e oportunidades para a Indústria. A mesma que o levou a organizar este plano numa lógica vertical, assente em catorze ecossistemas industriais distintos. A saber: construção, indústrias digitais, saúde, indústrias agroalimentares, energias renováveis, indústrias com utilização intensiva de energia, transportes e automóvel, eletrónica, têxteis, indústrias aeroespaciais e defesa, indústrias culturais e criativas, turismo, economia de proximidade e social e comércio de retalho.
Esta abordagem tem o mérito de permitir definir linhas de atuação muito específicas para cada ecossistema. Mas existe um contraponto, que é a ausência de princípios orientadores mais horizontais que definam a sua conjugação, por exemplo, com uma política para a energia, com o investimento em investigação e inovação, e com reformas que eliminem barreiras burocráticas. Sem esquecer as áreas de atividade que não se encaixam imediatamente num dos ecossistemas identificados, ainda que tenham pontos de contacto com um ou vários destes. É o caso das chamadas indústrias transformadoras, como a metalomecânica, que tem bastante peso no nosso país.
É certo que estas orientações têm vindo a ser melhoradas, por exemplo pela inclusão do setor Cultural e Criativo graças à insistência do Parlamento Europeu. Mas será preciso saber ultrapassar as limitações do projeto da Comissão Europeia para se poder tirar o maior proveito possível das suas virtudes.
Por isso, Portugal precisa de definir o seu próprio plano com muito cuidado. Um plano que articule a estratégia industrial com o Mecanismo de Recuperação e Resiliência, os programas comunitários, como o Horizonte Europa e as suas parcerias tecnológicas, e os fundos regionais. Um plano que preveja a criação de um verdadeiro ecossistema favorável ao crescimento, recuperando a cultura de produção industrial, com uma aposta clara no conhecimento e na eliminação de barreiras económicas e burocráticas. Um plano, enfim, que aponte para o crescimento sustentado dos diferentes setores, e não apenas para grandes projetos, controlados pelo Estado, focados numa ou outra atividade que a tutela do momento decide identificar como essencial.
Para sermos competitivos, precisamos de ter uma economia muito mais ágil e flexível, com o Estado a intervir apenas onde é verdadeiramente necessário. É isso que tem faltado à Europa e, em particular, a países como o nosso.