Sem surpresas, a subida acentuada da inflação, empurrada pelos preços da energia, é a preocupação número um dos cidadãos europeus, como revela o último Eurobarómetro da Comissão Europeia. É a essa ansiedade que, por estes dias, se vai procurando responder no plenário do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, depois de a Comissão Europeia ter anunciado para breve um reforço das medidas para o setor energético e de os estados-membros, numa reunião extraordinária do Conselho em Bruxelas, terem prometido união em torno das soluções a adotar.
A coordenação e a solidariedade são, sem dúvida, as condições mais importantes para enfrentarmos com sucesso esta crise energética. E é por isso que decisões individualistas tomadas por alguns estados-membros, como a Hungria, no protecionismo relativo às exportações de energia, ou a França, pela postura do presidente Macron sobre a construção da interconexão do gás dos Pirenéus, são absolutamente contraproducentes nesta fase. Refira-se, a propósito, que medidas como a solução adotada por Portugal e Espanha para o controlo dos preços do gás para a produção de eletricidade também não são as que melhor servem o interesse comum europeu.
Nesta terça-feira, numa audição promovida pelo Partido Popular Europeu em Estrasburgo, tive ocasião de conhecer as posições de diferentes partes interessadas neste dossiê, desde a Comissão Europeia, a representantes das empresas do setor energético e observatórios especializados europeus. Os argumentos por estes defendidos não coincidiam em todos os pontos, mas a necessidade desta articulação a nível europeu foi um dos aspetos em que todos concordaram.
Outro ponto consensual foi a necessidade de continuarmos a trabalhar para reduzir o consumo de energia, nomeadamente do gás e da eletricidade, ainda que tendo o cuidado de não condicionar o crescimento económico. Nomeadamente através de incentivos aos consumidores domésticos e empresas que sejam capazes de poupar, sobretudo nos períodos de pico de consumo.
De acordo com estimativas apresentadas nesta audição, as reservas de gás natural existentes na União Europeia poderão estar próximas dos 90% em outubro, graças não apenas à diversificação de fornecedores, mas também a uma redução dos consumos que, neste mês, estão 16% abaixo da média homóloga dos últimos anos. Mas poupar continua a ser necessário, não apenas como contraponto da alta dos preços, mas pela nossa segurança energética. De acordo com os representantes das empresas do setor energético, apesar destes assinaláveis progressos, ainda não estamos preparados para a eventualidade de um inverno particularmente rigoroso.
Igualmente aceite por todos é a necessidade de continuarmos a consolidar a independência energética da União Europeia face à Rússia. Mais uma vez citando os dados que nos foram apresentados, o gás russo representa atualmente cerca de 10% do total de importações europeias de gás quando, há um ano, variava entre os 30% e os 40%. É um passo assinalável. Mas não podemos permitir-nos invertê-lo depois da guerra. Por isso é que é tão importante diversificar as cadeias de abastecimento, investindo em infraestruturas como a interligação de gás dos Pirenéus. Estamos muito habituados a um fluxo energético do leste para o oeste e, neste momento, caminha-se para um fluxo do sul e do oeste para o centro da Europa.
Menos consensual, e com natural oposição das empresas do setor energético, foi a necessidade de uma intervenção regulatória no mercado, para conter a escalada dos preços. Contudo, na minha opinião, esta solução terá de ser adotada para proteger os cidadãos, as empresas e a indústria europeia. Terão de ser medidas de caráter temporário, reversíveis, adotadas de uma forma coordenada e que não nos coloque perante outras dificuldades no médio e longo prazo. Mas terão de avançar e rapidamente.