A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou nesta terça-feira que 70% dos cidadãos da União já completaram a vacinação contra a covid-19. É um marco muito importante, sendo que Portugal claramente ocupa um lugar de destaque entre os casos de sucesso.
De acordo com os últimos dados disponíveis, já ultrapassámos os 73% de cidadãos imunizados, 80% considerando quem recebeu pelo menos uma dose, sendo que apenas no passado fim de semana foram vacinadas mais de 100 mil pessoas, na sua grande maioria jovens. Em apenas dois dias foram vacinados 75% dos adolescentes entre os 12 e os 17 anos. Contas feitas, ocupamos o quinto lugar a nível mundial e o segundo na União Europeia em termos de cobertura da vacinação.
Estes números são particularmente relevantes quando recordamos que há alguns meses enfrentávamos uma realidade bastante distinta, a qual não podia ser atribuída exclusivamente a questões relacionadas com a disponibilidade das vacinas. O aspeto decisivo no nosso processo de vacinação foram os ganhos na capacidade de organização em larga escala. Um esforço para o qual contribuíram milhares de profissionais de saúde, de cidadãos, de voluntários, que se prontificaram a manter esta "máquina" em funcionamento, mas cujo sucesso está claramente associado a um nome: vice-almirante Gouveia e Melo.
O homem que aparecia nas entrevistas televisivas de camuflado, por considerar que se estava a travar "uma guerra", ainda que contra um inimigo invisível, trouxe disciplina e rigor ao plano de vacinação. Irritando-se com as falhas e improvisos. Denunciando abertamente qualquer desrespeito pelas prioridades definidas. Mas também combatendo egoísmos, como quando defendeu a importância da vacinação de imigrantes, e obscurantismos, ao enfrentar os insultos de negacionistas e teóricos da conspiração com a mais implacável das armas: a verdade. "Já se percebeu o que é que mata. Não é a vacina. É o vírus".
Antes que me interpretem mal, não pretendo através destas palavras fazer a apologia de qualquer tipo de liderança musculada. Tenho aversão a regimes autoritários, incluindo a regimes militares. Falo apenas do bom trabalho de um homem que, por sinal, fez questão de rejeitar o rótulo de "salvador da pátria", lembrando numa entrevista que "isso cheira a outra coisa", pouco democrática. Gouveia e Melo não decidiu sozinho. Teve a inteligência de se aconselhar com os melhores especialistas de cada área. Mas quando se tratou de agir, não se limitou a ser eficiente na exigente tarefa que lhe foi confiada. Também o fez dando um exemplo com o qual todos poderemos aprender.
Que país seria Portugal se todos os que, nas esferas pública e privada, são chamados a funções de elevada responsabilidade, a tomar decisões, o fizessem com a eficiência, zelo e espírito de missão com que o processo de vacinação foi conduzido ao longo dos últimos meses?
E que impacto teriam essas pessoas na perceção pública dos nossos líderes? Até que ponto a adesão da população às vacinas, nomeadamente da população jovem, pode ser explicada pelo fator confiança?
Confiança, objetividade e eficiência são precisamente os elementos de que precisamos para os muitos desafios que a nossa sociedade e a nossa economia têm pela frente, pelo que há aqui lições importantes a serem retiradas. Entretanto, a "guerra" contra a covid-19 ainda está longe do fim. Há ainda muitas batalhas por travar, incluindo convencer os relutantes e preparar a mais do que provável terceira dose para parte da população. Por isso, senhor vice-almirante, não tire já o camuflado.