Há pouco menos de uma década, a onze de abril de 2011, era assinado o memorando de entendimento que marcava a entrada da troika em Portugal. Pela mesma altura, outro país europeu, a Irlanda, cumpria já o seu plano de ajustamento económico, iniciado alguns meses antes. Como sabemos, ambos viriam a honrar o apertado caderno de encargos estipulado por Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional. Infelizmente, as semelhanças ficaram-se por aí.
Portugal iniciou então uma retoma lenta, aproximando-se progressivamente dos valores de Produto Interno Bruto anteriores à crise, enquanto a economia irlandesa disparou e a sua dívida pública caiu a pique, sendo o seu valor percentual reduzido a metade em apenas seis anos. Em 2019, o país fechou o ano com excedente orçamental. Escusado será dizer qual dos dois estava melhor preparado para enfrentar a nova crise causada pela covid-19.
O que fez de diferente a Irlanda para justificar uma recuperação tão acentuada? Uma atenção redobrada a todo o ecossistema de inovação. Uma política fiscal simples, estável e transparente. Um enorme foco em criar condições de atratividade para o investimento estrangeiro nas áreas das novas tecnologias, TIC e Bioengenharias. E, como enquadramento destas e de outras medidas, uma visão clara, de longo prazo, para as políticas públicas. Recomendo, a esse propósito, a leitura do relatório "Ireland 2040", supervisionado pela então ministra Frances Fitzgerald, minha atual colega deputada no Parlamento Europeu.
O caso de sucesso da Irlanda, com o testemunho de Frances Fitzgerald, foi um dos temas discutidos num debate sobre o papel da inovação no desenvolvimento económico, promovido nesta semana pelo Instituto Sá Carneiro e pelo Conselho Estratégico Nacional do PSD. Outro exemplo em discussão, para o qual contámos com a participação da deputada europeia Pernille Weiss, foi a Dinamarca, um país que ocupa os primeiros lugares a nível mundial nos indicadores económicos e sociais, graças a um modelo de crescimento assente na aposta no conhecimento.
A Dinamarca que todos os anos, desde 2009, destina 3% do seu Produto Interno Bruto a atividades de Investigação e Desenvolvimento. A Dinamarca que conta com um mercado laboral extremamente dinâmico, assente não na precariedade e nos baixos salários, mas numa verdadeira política de formação ao longo da vida para toda a sua população ativa.
Mas também ouvimos - até para contrariar o previsível fatalismo daqueles que acreditam que, "por cá, nada disto resultaria" - o presidente da câmara de Braga, Ricardo Rio, que nos explicou como esta cidade histórica tem sabido reinventar-se através de políticas destinadas a atrair o investimento e a tecnologia, numa articulação estreita com a Universidade do Minho e os seus clusters de inovação.
Refletir sobre o que se fez de mal ou o que se deixou de fazer no passado é útil para evitar a repetição dos erros. Mais importante, contudo, é procurar formas de fazer diferente e melhor. E é para isso que servem os bons exemplos.
A Portugal, no futuro, não bastará saber sobreviver a tempestades ou navegar águas mais tranquilas. Precisamos de assumir um novo destino e de fixar um rumo claro para lá chegar.