Largas centenas de candidatas do PSD, vindas de todos os pontos do país, encheram no último sábado o Centro de Exposições da Batalha, no primeiro Encontro Nacional de Mulheres Autarcas Social Democratas. Foi um momento muito especial, acompanhado pelo presidente do partido, o doutor Rui Rio. Aquela mobilização serviu de testemunho do esforço que tem vindo a fazer rumo à igualdade de género entre os seus candidatos e eleitos e ilustrou bem a força, energia e entusiasmo que as mulheres podem trazer à politica.
O PSD apresenta-se a estas eleições autárquicas com 64 mil candidatos, dos quais cerca de 30 mil são mulheres. Temos mais mulheres a liderar as respetivas listas, desde a câmaras às juntas de freguesia, e temos ambições legítimas de contar com mais eleitas após a votação do próximo dia 26. E tudo isto resulta de um trabalho de fundo consistente que passou, por exemplo, pelas Academias de Formação Política para Mulheres, promovidas pelo Instituto Francisco Sá Carneiro.
Ainda assim, quando olhamos para o panorama político nacional, também temos consciência de que há um longo caminho a percorrer. Nas últimas autárquicas, entre todos os partidos e movimentos independentes, as mulheres representaram apenas cerca de 10% dos eleitos e seis presidentes de câmara. Muito pouco ainda. Todos os partidos têm de trabalhar mais para captarem e potenciarem novas militantes, e os eleitores - não apenas as mulheres, mas todos eles - têm de ser convencidos dos benefícios de se aumentar a representação política no feminino.
No Parlamento Europeu, onde sou membro da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros, tenho estado envolvida em diversas frentes relacionadas com o empoderamento do sexo feminino, quer se trate de mulheres nos conselhos de administração de grandes empresas quer da sua participação no setor das novas tecnologias, com destaque para a chamada economia digital.
E um dos argumentos que tenho repetido insistentemente é que estas batalhas não se prendem apenas com a luta pela igualdade dos géneros - embora esta seja absolutamente fundamental. O interesse é geral, de toda a sociedade. Porque nenhum setor pode atingir o seu pleno potencial quando metade do seu reservatório de talento, metade da "matéria-prima" humana que tem ao seu dispor, é deixado à margem.
Felizmente existem cada vez mais mulheres talentosas e competentes a deixarem a sua marca nas novas tecnologias, na administração de grandes empresas, na política. A primeira-ministra da Nova Zelândia, para dar apenas um exemplo recente, foi mundialmente apontada como um modelo de gestão da pandemia de covid-19. E estas não são exceções à regra. São, isso sim, mulheres que seguiram a sua vocação e venceram em áreas onde muitas outras ainda não equacionam sequer entrar, por estas serem conotadas - e em muitos caso efetivamente estruturadas - numa lógica masculina. Imaginemos o que teremos todos a ganhar, nomeadamente na política, se mais destes talentos forem aproveitados.
Um dos fatores decisivos para que essa mobilização aconteça é a existência de massa crítica. Quanto mais mulheres existirem na política, quanto mais de entre estas sobressaírem nas funções desempenhadas, mais facilmente outras se sentirão confortáveis para seguirem os mesmos passos. É por isso que sou favorável à existência de quotas na política. As quotas não servem para garantir que voltaremos a ter uma primeira-ministra, que finalmente tenhamos uma Presidente da República ou sequer que contemos com mais presidentes de câmara mulheres. Servem, isso sim, para ajudar a criar as condições para que tudo isso aconteça naturalmente. O talento está lá. Trata-se apenas de não o desperdiçar.