No Dia da Europa, assinalado neste 9 de maio, recebemos em Estrasburgo Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente da República só nesta quarta-feira irá dirigir-se à sessão plenária do Parlamento Europeu. E não ficaria surpreendida se, assim que a sua intervenção terminasse, o espaço mediático nacional se enchesse de comentários e análises, em busca de subentendidos e mensagens para consumo interno. Mas estou certa de que o Chefe de Estado veio a Estrasburgo para falar da Europa, e do papel que Portugal nesta desempenha.
Já ontem, numa nota publicada na página oficial da Presidência da República, deu o mote sobre aquele que poderá ser o tema da sua intervenção. Citou Simone Veil, a primeira mulher Presidente do Parlamento Europeu, quando esta afirmou que "o destino da Europa e o futuro do mundo livre estão inteiramente nas nossas mãos". Abordou o papel da Europa como bastião dos valores democráticos, enfatizando a importância de preservamos estes valores e de combatermos os populismos dentro da União. Referiu, também, o carácter exemplar da UE nos temas do clima, da energia e do digital. E terminou enquadrando o nosso país nestes desígnios comuns.
É este Presidente da República, europeísta convicto e defensor dos valores democráticos, que conto ouvir na sessão plenária. Um Presidente que sabe que a Europa é muito mais do que a soma das suas partes, e que, sendo nós um país médio no conjunto dos Estados-membros, temos uma dimensão incomensuravelmente maior por pertencermos a esta União.
Marcelo Rebelo de Sousa tem um estilo próprio, apreciado por uns e nem tanto por outros. Mas se há coisa de que ninguém o pode acusar é de falar por inuendos ou de se esconder atrás de meias palavras. Quando tem alguma coisa para dizer, alguma mensagem para transmitir, é exatamente isso que faz, e com uma frontalidade desarmante.
Pensando apenas nos exemplos mais recentes, foi o que fez em dezembro, quando avisou o governo que não perdoaria uma má execução do Plano de Recuperação e Resiliência; e foi o que fez há dias, na reação ao "caso Galamba", quando explicou com todas as palavras o que esperam os portugueses, e não apenas o Presidente da República, de quem exerce funções governativas: "Capacidade, confiabilidade, credibilidade, respeitabilidade, autoridade". Uma autoridade "responsável", acrescentou.
Quem esperava ver Marcelo Rebelo de Sousa dissolver a Assembleia da República, convocando eleições antecipadas, não lhe conhece a determinação em assegurar a estabilidade e defender o superior interesse comum até ao limite das suas capacidades. Mas quem confundiu essa recusa com um qualquer sinal de fraqueza, claramente não ouviu com atenção os avisos que deixou sobre a futura relação com o governo de António Costa.
O que nós vimos e ouvimos na passada sexta-feira, depois de termos sido, por parte do governo, confrontados com acontecimentos e protagonistas dignos de uma República das Bananas, foi Marcelo a mostrar o que significa ser titular de um alto cargo público. Dizendo o que precisava de dizer e não o que uns esperavam, outros temiam e muitos antecipavam que dissesse. Fazendo o que considerava melhor, naquela altura, para o país e não para a sua agenda pessoal.
É este Presidente da República que terei todo o gosto e orgulho em ouvir discursar na sessão plenária do Parlamento Europeu, numa altura em que homenageamos outro grande estadista, Robert Schumann, cuja Declaração, assinada em 1950, é um dos exemplos maiores do que acontece quando preferimos construir pontes a erguer muros.