A eleição da minha colega do Partido Popular Europeu, a maltesa Roberta Metsola, para a Presidência do Parlamento Europeu, é um momento de grande significado para a União Europeia. Não apenas se trata do eurodeputado mais novo alguma vez escolhido para aquele cargo, como apenas da terceira mulher, depois de Simone Veil (1979) e Nicole Fontaine (1999).
O facto de esta eleição coincidir com a presidência da Comissão Europeia por Ursula von der Leyen, a primeira mulher nessas funções, marco ao qual poderíamos ainda somar a liderança do Banco Central Europeu por Christine Lagarde, dá maior relevância à escolha feita nesta terça-feira por uma clara maioria dos deputados. Mais do que eventos ainda raros, podemos estar a celebrar o princípio daquilo que esperamos que venha a ser a norma: a afirmação das mulheres nos centros de decisão - europeus e não só -, em pé de igualdade com os homens.
A esse respeito, é importante referir que, nesta votação, Metsola teve a concorrência de duas outras mulheres, a espanhola Sira Rego, candidata do Grupo da Esquerda no Parlamento Europeu, e a sueca Alice Kuhnke, dos Verdes.
Ter um pleno de candidatas a presidentes de uma das principais instituições da UE seria algo inimaginável há alguns anos atrás. Em 1979, na sessão constitutiva que resultou das primeiras eleições diretas para o Parlamento Europeu, a percentagem de deputados do sexo feminismo não ia além dos 19%. Esta margem foi sempre melhorando progressivamente. Ainda assim, no ano em que eu própria fui pela primeira vez eleita deputada europeia, em 2009, as mulheres só representavam pouco mais de um terço (35%) do total. Na última eleição, em 2019, chegaram já aos 42%.
Esta afirmação não significa que a batalha pela igualdade dos géneros esteja essencialmente ganha, ou a caminho de ser ganha. Essa é, aliás, uma ideia perigosa, como o demonstram os retrocessos nos direitos das mulheres a que temos vindo a assistir em vários países, incluindo em Estados-membros. E como se comprova pelo impacto desproporcional sentido pelas mulheres nestes dois anos de pandemia, sobretudo ao nível do mercado de trabalho.
Mesmo a realidade atual das instituições europeias, ao nível das direções-gerais e outras entidades, continua a ser muito marcada pelas lideranças no masculino.
Promover a igualdade no emprego e no acesso a cargos e carreiras em que o sexo feminino é minoritário, tanto no setor público como nas empresas, continuará a ser necessário enquanto persistirem diferenças que não podem ser explicadas por outros fatores além do género.
A propósito, foi muito importante o compromisso agora assumido por Usula von der Leyen no sentido de fazer avançar, em articulação com a presidência francesa do Conselho, a diretiva referente à participação das mulheres nos conselhos de administração. A diretiva em causa, da qual sou relatora pelo Partido Popular Europeu, aponta para um mínimo de 40% de mulheres em funções não executivas nas administrações.
É uma questão de justiça, e é ainda uma medida que serve os interesses de todos os europeus. Não porque as mulheres tenham aptidões diferentes dos homens para o exercício dessas funções, mas pelo simples facto de mais opções significarem, geralmente, melhores opções.
Essa é uma convicção que tenho repetido frequentemente na minha defesa do reforço da participação das mulheres nas chamadas CTEM - Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em particular nas tecnologias digitais. Não faz qualquer sentido, sobretudo em áreas onde escasseiam os profissionais qualificados, que se desperdice uma bolsa de talento por questões relacionadas com estereótipos que nunca fizeram sentido, e ainda menos sentido fazem nos dias de hoje.
Mas é também um facto que as próprias mulheres devem ser mobilizadas. Por isso é que a eleição de Metsola continua a ter significado, por constituir um exemplo. Muitas mulheres poderão não concordar com as suas posições em diferentes temas, mas todas podem olhar para ela como mais um caso de sucesso no feminino.