Maria da Graça carvalho, 65 anos, eurodeputada eleita pelo PSD, duas vezes ministra do Ensino Superior, da Ciência e da Inovação, foi a convidada do Irrevogável, programa de entrevistas da VISÃO. Muito envolvida nas matérias de igualdade de género, no Parlamento Europeu, já está em contacto com a ministra da Presidência, Mariana Vieira Silva, na preparação da Presidência portuguesa (que, segundo preconiza, “terá grandes desafios na área da igualdade de género e na de ciência e inovação”), no sentido do lançamento de políticas públicas que promovam a igualdade de género, nomeadamente, com a aplicação da diretiva euroeia para a inclusão de mulheres nos conselhos de administração das empresas, bloqueada há 12 anos. Graça Carvalho afirma que a minoria de bloqueio é formada por países onde a igualdade de género fez enormes progressos, muito antes dos outros, mas que consideram que esta matéria é de âmbito estritamente nacional e não europeu. “A Presidência portuguesa terá de fazer algum trabalho diplomático a convencer países como a Alemanha e a Holanda a desbloquear a diretiva”, afirma. “Sou a favor de quotas, quando não se consegue de outra maneira, mas elas devem ser transitórias, até que, pela presença de massa crítica feminina nesses lugares, deixem de ser necessárias”.
Outro grande desafio será o de promover a inclusão de mais raparigas estudantes em cursos de tecnologias da informação e nas áreas digitais. Esses cursos, a nível europeu, ainda incluem, apenas, 17% de mulheres, 12% em Portugal. “Ora”, defende a eurodeputada social-democrata, “as mulheres foram marginalizadas quando foram vítimas de uma maior e mais persistente incidência da taxa de analfabetismo – e agora, na era digital, as consequências da sua exclusão poderia produzir um novo ‘analfabetismo’, com todas as consequências no emprego e no rendimento”.
A eurodeputada aponta causas culturais para a menor apetência das raparigas para a área digital, porque “as escolhas fazem-se muito cedo” e, dando um exemplo, nota que os “nerds” dos jogos eletrónicos “são, normalmente, os rapazes, até porque estes jogos replicam estereótipos predominantemente masculinizados”. Por outro lado, a taxa de abandono das estudantes nestes cursos é significativa, visto que “falta massa crítica feminina e os ambientes são muito masculinos”. Por isso, o Parlamento Europeu “tem feito várias recomendações à Comissão Europeia e aos governos nacionais para que promovam medidas de sensibilização no sentido de inverter a situação”.
Recém-empossada presidente do Instituto Sá Carneiro, Maria da Graça Carvalho anuncia novas áreas de interesse abrangidas por aquele organismo: mais programas nas novas áreas digitais e de inovação, uma bolsa de empreendedorismo, um Prémio Sá Carneiro para investigação em Ciência Política, maior rede nacional fora dos grandes centros de Lisboa e Porto.
“Sá Carneiro”, defende, “era um social-democrata e um homem cosmopolita, aberto a novas ideias e que gostava do debate e da troca de impressões com quem pensasse diferente”. O seu pensamento de abertura ao mundo “continua muito presente entre os militantes do PSD”.
Sobre a ascensão do populismo, na Europa e em Portugal, afirma que se alimenta do descontentamento. “E não se combate com retórica, mas com políticas que proporcionem bem estar às populações”. O populismo “é, também, resultado de falta de conhecimento”. Portanto, a propósito de conhecimento, remata ser favorável à disciplina de Cidadania: “Em Portugal, a polémica estalou, não tanto devido à existência da cadeira, mas a alguns dos seus conteúdos. Mas a disciplina existe em muitos países e concordo com a sua existência, desde que tenha um programa bem estruturado”.
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