O roteiro da indústria cimenteira para atingir a neutralidade carbónica em 2050 foi apresentado hoje na conferência digital “Cimentar o Futuro” organizada pela Associação Técnica da Indústria de Cimento (ATIC) e pelo jornal Expresso.
A adoção urgente de medidas de descarbonização, os investimentos avultados e as políticas públicas e apoios financeiros e fiscais que elas requerem e a importância de garantir que tudo é feito mantendo a competitividade do sector foram alguns dos temas debatidos na conferência de hoje. Um evento que teve como mote a apresentação do roteiro da indústria cimenteira para atingir a neutralidade carbónica em 2050 e que contou com 14 oradores, entre deputados europeus, ministros nacionais, presidentes das maiores empresas de cimento e especialistas em políticas e economia ambiental e engenharia. Foram eles Gonçalo Salazar Leite, presidente da ATIC; João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente; Paulo Rocha, diretor de Inovação e Sustentabilidade da Cimpor; Carlos Zorrinho e Maria da Graça Carvalho, ambos deputados do Parlamento Europeu; Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente; Otmar Hübscher, CEO da Secil; Alfredo Cardeira, diretor da Secil; João Gonçalves Pereira, deputado do CDS-PP na assembleia; Fernando Santo, presidente do Conselho Português da Construção e do Imobiliário (CIP) e ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros; Luís Fernandes, presidente do Conselho Executivo da ATIC e CEO da Cimpor; Sofia Santos, fundadora da SystemicSphere; e ainda Pedro Siza Vieira, ministro da Economia. Estas são as principais conclusões.
1. O roteiro
“A indústria cimenteira foi das primeiras a responder ao desafio de atingir a neutralidade carbónica que assumimos em 2016”, diz João Pedro Matos Fernandes. E este roteiro mostra esse compromisso e também o continuar das alterações que têm sido feitas na última década. Na Secil, por exemplo, já se investiram €70 milhões na conversão da fábrica do Outão, diz Otmar Hübscher. Mas há ainda muito a fazer, diz Gonçalo Salazar Leite, e o roteiro divide as ações a realizar em duas fases, uma até 2030 e outra até 2050, que já incluirá tecnologias mais disruptivas, como a captura, armazenamento e reutilização do CO2 e o recurso ao hidrogénio como fonte de energia limpa. Porque sem elas não será possível chegar-se à neutralidade carbónica, alerta Maria da Graça Carvalho.
2. Políticas públicas adequadas
Para que este roteiro possa ser aplicado é preciso haver políticas públicas adequadas e apoios financeiros e fiscais que suportem os investimentos avultados que são necessários. Por exemplo, “não pode falhar a aposta na ciência e na inovação e a aplicação de todos os planos de financiamento de forma simples e sem burocracia”, diz ainda Maria da Graça Carvalho.
De facto, para Fernando Santo, há ainda muita confusão no que respeita a políticas públicas e há falta de coerência entre o que se deseja atingir em 2050 e aquilo que é a realidade atual em termos de licenciamentos de edifícios, por exemplo, ou do IVA na construção.
Mas Pedro Siza Vieira está confiante na mudança que o sector em particular e a indústria no geral terá de fazer nos próximos anos e garante que o Governo será um parceiro nesse processo. De acordo com o ministro estão a ser tomadas medidas nesse sentido, não só ao nível nacional, mas na União Europeia, como por exemplo, a implementação mais agressiva de uma taxa à importação de materiais produzidos em países onde não há uma preocupação ambiental.
3. Manter a competitividade
As políticas públicas têm ainda de ajudar a assegurar que os investimentos que são precisos realizar para atingir a neutralidade carbónica em 2050 não vão provocar uma perda de competitividade no sector, principalmente tendo em conta que se trata de uma indústria relevante para a economia nacional, com mais de cinco mil empregos e representando cerca de 50% das exportações.
“Não há plano B. Temos de ir por este caminho e o importante é estarmos todos ao mesmo nível”, reitera Luís Fernandes. E neste caso, diz Sofia Santos, “a política fiscal pode ajudar”.