Aprovação mais célere de medicamentos inovadores, maior taxa de acesso dos doentes a essas terapêuticas, e distribuição equitativa, são três dos principais obstáculos no sector da saúde em Portugal. O diagnóstico é de médicos, representantes de doentes e decisores políticos, que concordam ser fundamental implementar medidas concretas que permitam resolver o problema. Para isso, considera Miguel Abreu, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO), é importante que os doentes possam “ter voz nestas decisões”.
Se o acesso à inovação na União Europeia é desigual, como demonstram os estudos e confirmam os profissionais de saúde, os eurodeputados Maria da Graça Carvalho e Manuel Pizarro encontram na pandemia a solução. “Sugiro que se olhe para o que aconteceu durante a pandemia com o financiamento e a aprovação da vacina em tão pouco tempo”, aponta a deputada do Parlamento Europeu. Porém, no que às doenças oncológicas raras, e em particular ao cancro do ovário, diz respeito, há muito mais a fazer, denunciam associações de doentes.
“Acesso à inovação nas doenças oncológicas raras: desafios no cancro do ovário”, um evento organizado esta tarde pelo Expresso com apoio da GSK, juntou especialistas nacionais e internacionais para o debate sobre o futuro da saúde em Portugal e na Europa.
Conheça os principais desafios e caminhos sugeridos pelos especialistas durante a conferência:
O peso do cancro raro
- Doenças oncológicas raras são mais difíceis de diagnosticar e de tratar, em especial quando o tema é o cancro do ovário. “Há muita falta de testes genéticos no país”, lamenta Cláudia Fraga, presidente da associação MOG. Sendo o diagnóstico precoce uma condição fundamental para garantir melhores perspetivas de sucesso no combate à doença, a responsável pede maior agilidade na referenciação destes doentes nos cuidados de saúde primários.
- Reino Unido, Espanha e Itália são exemplos de três países com melhor acesso à inovação terapêutica nesta área, afirmam associações de doentes, mas todos partilham um desafio: aumentar a sensibilização das mulheres para os sintomas desta forma de cancro. “É importante conhecer os sintomas”, reforça Rachel Downing, da associação Target Ovarian Cancer.
- Em território nacional, a comparticipação de medicação de primeira linha para estas doentes está limitada a casos de mutação genética. 75% destas mulheres não tem direito à terapêutica, que custa cerca de €7000 por mês. “Uma recidiva sai muito mais caro ao país do que comparticipar o tratamento de primeira linha”, acusa Cláudia Fraga.
Papel da União Europeia
- “Espero que os ensinamentos [da pandemia] possam ser utilizados no bom sentido”, afirma Rui Santos Ivo, presidente do Infarmed, sobre uma progressiva equidade no acesso a medicamentos inovadores no espaço europeu.
- Entre 39 países, Portugal ocupa a 31ª posição no que respeita ao tempo para a disponibilização das mais recentes terapêuticas. “É preciso inverter esta realidade que tanto prejudica a nossa sociedade, nomeadamente quem vive com doenças oncológicas”, assinala Maurizio Borgatta, diretor-geral da GSK Portugal.
- Para Fernando Araújo, diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar e Universitário do Porto, além do papel da Comissão Europeia, e de um caminho em direção a uma verdadeira UE da saúde, a solução é simples: “A melhor medida era o Infarmed cumprir a lei que existe e que lhe dá 180 dias para responder [aos pedidos de aprovação]”.
- Colaboração foi a palavra de eleição na discussão desta tarde, com Maria da Graça Carvalho a defender cada vez mais participação nacional em redes de investigação científica europeias, de forma a acelerar o acesso à inovação. Adequação dos recursos e maior organização dos serviços é essencial, sublinha Manuel Pizarro, para aumentar o número de ensaios clínicos realizados em território português. “O número ainda está aquém da nossa capacidade”, diz.