Instituto Francisco Sá Carneiro, que Maria da Graça Carvalho preside, está a assinalar os 40 anos de morte do fundador do PSD com um conjunto de iniciativas, entre as quais um ciclo de conferências destinadas a levar o pensamento de Sá Carneiro aos problemas atuais. A eurodeputada e antiga ministra do Ensino Superior e da Ciência afirma que os princípios e a ética que defendeu continuam atuais. Admite que o PSD possa vir a fazer parte de uma nova AD, menos abrangente, na qual o partido de André Ventura não tem lugar.
O pensamento de Sá Carneiro é muito atual, constitui os princípios da social-democracia e está na origem da formação do PPD-PSD. As várias citações que Sá Carneiro deixou são muito atuais e ajudam-nos a pensar melhor as soluções dos problemas enormes que hoje enfrentamos, muitos deles que poderemos considerar problemas mais técnicos e que necessitam de soluções mais tecnológicas. O princípio da liberdade a da pessoa humana no centro das preocupações da política, tudo isso que estava muito presente no pensamento de Sá Carneiro, é importantíssimo, e pretendemos juntar a essa ideologia as evidências científicas atuais e discutir os problemas que nos afetam neste momento. Como as alterações climáticas, como é que nos tornamos mais competitivos em inovação, como deveremos reagir da melhor forma a crises de saúde e sanitárias. É o nosso objetivo com este conjunto de seminários. Nestas épocas de crise, em que existe radicalismo e, infelizmente, muitas pessoas são muitas afetadas pela crise, é importante pensar as coisas. A crise sanitária, económica, social ajuda os movimentos populistas, e acho que este debate irá mostrar qual é a diferença, como poderemos fazer a diferença.
Começaram as conferências que têm um orador principal e que vão ser essencialmente figuras nacionais muito especializadas, e que conhecem o pensamento de Sá Carneiro. Escolhemos as pessoas não pela sua filiação partidária, podem ser ou não do PSD, mas da área da social-democracia e que têm dado um grande contributo à sociedade nas suas áreas. Começamos pela inovação, com Carlos Moedas, mas também a política internacional, com Durão Barroso, vamos à saúde, ao ambiente, às questões orçamentais, como é feita a recuperação económica.
Ele era uma pessoa genial e muito do que disse aplica-se às situações atuais. Por exemplo, não deixar ninguém para trás nesta luta contra a covid, se quisermos falar das questões dos lares, as questões do emprego, da competitividade, até da própria ciência e inovação. O seu pensamento é atual porque era baseado em princípios fundamentais e éticos.
Esse projeto político tem de ser sempre com forças políticas que defendam os princípios enunciados por Sá Carneiro, que conseguiu fazer alianças com partidos que comungavam com ele esses princípios. Não sei se hoje seria possível termos uma aliança tão vasta.
Penso que sim, mas neste momento não seria o suficiente para uma aliança dessas para liderar o país, dados os resultados eleitorais. Mas com certeza que sim, que se mantêm na sua génese com os mesmos princípios.
Em relação ao Chega eu penso que não, não comunga connosco estes princípios de Sá Carneiro. O Iniciativa Liberal é diferente, há vários princípios que são comuns, mas os dirigentes partidários teriam de aprofundar o debate sobre esses princípios. O que é importante é traçar linhas vermelhas na ideologia, e o instituto, sem se intrometer na vida partidária, pode ajudar a clarificar essas linhas. Uma coisa muito importante é pensar o que nos distingue dos outros partidos, do PS, do CDS, do Iniciativa Liberal, do Chega, e é importante que a sociedade saiba exatamente quais são as nossas linhas.
Sim. Direitos humanos, liberdade, sociedade de mercado, liberdade de imprensa, há imensas áreas, igualdade de oportunidades, todos esses princípios que nós iremos discutir e saber o que significam hoje. São intemporais, mas aplicados à atualidade. São estes os nossos objetivos, não ficarem só como princípios, mas também para atrair os jovens que são mais pragmáticos e querem obter soluções para os seus problemas do dia-a-dia.
A maior distinção é o papel do Estado. Na social-democracia, o papel do Estado é importante na educação e na saúde para proteger os mais desfavorecidos, mas este Governo está demasiado presente em todas as áreas. Temos demasiado Estado na sociedade. Defendemos que o Estado assuma o seu papel quando é necessário, mas que depois se saiba retirar e que, logo após a crise, como esta da pandemia, deixe a sociedade respirar e dê maior liberdade às pessoas e ao mercado.
Começámos as conferências com um orador principal e vamos ter essencialmente figuras nacionais muito especializadas, do melhor que há em Portugal e que conhecem o pensamento de Sá Carneiro. Mas não estamos a escolher em função de filiações partidárias, podem ser ou não, mas da área da social-democracia, e que têm dado um grande contributo à sociedade nas suas áreas. E portanto, queremos abranger, começamos pela inovação, com o ex-comissário europeu Carlos Moedas, mas também a política internacional, com Durão Barroso, a saúde, o ambiente, as questões orçamentais, como é feita a recuperação económica.
É uma pergunta complexa. O nosso sistema de ensino, os nossos licenciados e o ensino superior têm produzido muitos resultados e têm feito uma grande diferença em relação ao Portugal. Se houve política que melhorou as condições do país após o 25 de Abril, foi a da educação e da ciência. Até o Serviço Nacional de Saúde sempre soube beber dos médicos que formámos, das enfermeiras, dos técnicos de saúde. Temos um sistema de educação que tem dado resposta às necessidades do país e não só. Até temos dado resposta às necessidades de outros países, para os quais exportamos muitos técnicos, cientistas, médicos e enfermeiros que fazem muito bom papel lá fora. Agora precisamos de rever um pouco o nosso sistema de educação e precisamos de nos adaptar às novas condições, nomeadamente a toda esta revolução digital. Precisamos de dar às nossas crianças, desde muito cedo, todos os conhecimentos básicos das tecnologias digitais. Por outro lado, precisamos de ter uma cultura muito mais multidisciplinar e uma forma de ensino em que olhamos para o problema como um todo. Isso já é feito noutros países com bons resultados, como a Finlândia. Precisamos também de uma cultura em que as pessoas percam o medo de arriscar - o que não é só uma característica de Portugal, é uma característica europeia, comparada com os EUA ou com outros países da Ásia, onde arriscam muito mais. Nós, europeus, temos tendência para ser muito conservadores nas questões do risco, mas precisamos de empreendedorismo e inovação. Experimentar coisas novas está muito relacionado com perder o medo de arriscar, e isto não é incutido nas pessoas, e devia começar logo na pré-primária. Tenho feito muitos trabalhos para o Parlamento Europeu para atrair mais mulheres para todas as posições digitais, onde existem poucas, mas temos chegado à conclusão de que as meninas não escolhem esta área, as suas opções são formadas quando ainda muito pequeninas. Portanto, é aí que temos de começar a atuar praticamente, na primária e até mesmo na pré-primária. A outra questão é que precisamos introduzir mais cultura no nosso sistema educativo e mais desporto.
Sá Carneiro tinha um pensamento sólido sobre a Europa, infelizmente, antes da concretização do projeto europeu e da adesão à CEE. De qualquer modo, o projeto europeu e o mundo têm evoluído muito e hoje estamos novamente diante de evoluções que não sabemos bem e que eram difíceis de prever aqui há uns anos. As questões do Brexit, o caminho que os EUA estão a seguir, a queda do Muro de Berlim, o desmoronar da URSS, o que era difícil de prever a longo prazo. A Europa é hoje muito diferente de há uns anos, em que tínhamos 12 ou mesmo 15 Estados membros. Temos atualmente um grande peso dos países do Leste e do Báltico que estiveram durante muito anos sobre a influência da URSS, países com uma história diferente, com culturas diferentes. E isso também é muito interessante, e, agora com a saída do Reino Unido, nota-se que temos uma Europa mais continental com peso a oriente maior do que tínhamos. Nós próprios temos de nos adaptar. Sou vice-coordenadora do PPE na minha comissão de Indústria, Investigação Científica e Energia, e é interessante ter de compatibilizar todos os sentires desses países.
Francisco Sá Carneiro fez parte da Ala Liberal, durante a primavera marcelista. Após o 25 de Abril fundou o PPD, juntamente com Francisco Pinto Balsemão e Magalhães Mota. Em 1979, conseguiu criar uma Aliança, a Democrática, com o CDS de Freitas do Amaral, o PPM de Gonçalo Ribeiro Telles e o Movimento de Reformados de Medeiros Ferreira e Francisco Sousa Tavares. A coligação venceu as legislativas de 1980 com maioria absoluta e levou Sá Carneiro ao cargo de primeiro-ministro, que desempenhou até 4 de dezembro de 1980, quando perdeu a vida, juntamente com a sua companheira e o democrata-cristão Adelino Amaro da Costa, depois de o Cessna em que viajavam se ter despenhado em Camarate.