A cerimónia de encerramento do EWSR+10, projecto comemorativo do 10º aniversário da Reserva Mundial de Surf da Ericeira – RMSE promovido pelo Ericeira Surf Clube (ESC), realizou-se ontem, tendo a sessão sido marcada pelo estudo sobre o impacto da Reserva Mundial de Surf da Ericeira na última década: a apresentação feita por Juanma Murua deu o mote para um painel de reflexão rico e aceso, constituído por representantes das instituições responsáveis pela gestão da Reserva.
A tarde na Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva foi abrilhantada, também, por outras apresentações e pelas intervenções da Eurodeputada Maria da Graça Carvalho (online) e do Ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, a quem coube o encerramento dos trabalhos.
A “madrinha” do EWSR+10 falou sobre “A Perspectiva Europeia para a Nova Economia Azul – Prioridades, iniciativas e objectivos 2030”, não deixando de fazer alusão à invasão militar da Ucrânia por parte da Rússia: “Este é um dia triste para a Europa e para o mundo. Estamos aqui reunidos para falar de assuntos mais interessantes e felizes, nomeadamente o pacto ecológico europeu”, disse Maria da Graça Carvalho antes de abordar as respostas à crise climática, que deverão promover a criação de empregos e riqueza, mas sempre numa perspectiva de sustentabilidade, nomeadamente do mar que representa o maior recurso natural português, temas que aproveitou para fazer a ponte para o projecto comemorativo do 10º aniversário da Reserva Mundial de Surf da Ericeira.
Seguidamente, Pedro Bicudo (Presidente da SOS – Salvem o Surf e membro do Vision Council das Reservas Mundiais de Surf) apresentou “A visão das associações surfistas sobre a RMSE”: dos principais problemas identificados em 2019 e respectivas propostas para os resolver ou mitigar (como a criação dum Parque Natural e duma Reserva Marítima) à importância de as entidades que integram o Conselho Restrito Municipal de Gestão da Reserva continuarem a conversar e partilhar as suas perspectivas regularmente, fez uma viagem desde a candidatura que originou este galardão até à actualidade.
Antes do primeiro Surf Break da tarde, dois dirigentes do ESC passaram pelo palco da Casa de Cultura: o Director da Área de Inovação e Redes Colaborativas fez uma apresentação dos resultados do projecto europeu Ericeira WSR+10 com “Olhos no Futuro” – Miguel Toscano salientou o papel deste clube como agente de desenvolvimento local sustentável, focando-se também na mudança de mentalidades no que toca à inclusão de pessoas com deficiência na criação de impactos positivos. Por seu turno, Luís Bernardes (membro da Direcção do Departamento de Sustentabilidade do ESC) apresentou o curso de Formação EWSR+10 “Surfing e Sustentabilidade”, duas realidades ligadas de forma umbilical no âmbito deste projecto, que ambiciona capacitar mil pessoas a nível europeu.
Estes não foram meros aperitivos, mas o prato principal seria servido logo após uma pausa retemperadora.
Juanma Murua apresentou o estudo de impacto da RMSE na última década, destacando que mais do que pretender reduzir tudo ao impacto económico da RMSE em euros (cedendo à tentação de muitos economistas, como ele) pretendeu fazer uma fotografia do impacto do surfing na Ericeira. Na entrevista realizada ao coordenador desta investigação podem encontrar muito do sumo da intervenção do consultor basco, que concluiu que o «surf contribuiu para aumentar o número de alojamentos turísticos e escolas da modalidade, mas a pressão turística trouxe problemas ambientais», tal como noticiado pela Lusa. A agência noticiosa portuguesa destaca também que o «crescimento económico que o ‘surf’ trouxe, com o aumento do número de turistas, aumentou a pressão urbanística e o tráfego e a RMS “não teve um reflexo positivo na qualidade de vida dos residentes”, uma vez que os espaços verdes não aumentaram à proporção, nem contribuiu para o aumento do emprego ou do poder de compra dos residentes».
O estudo encomendado pelo ESC para analisar o impacto do surfing e das actividades associadas a estes desportos em termos económicos, sociais, ambientais e de imagem deu o mote para um painel de reflexão bastante rico, apresentando perspectivas marcadas pelas posições das instituições representadas, que integram o Conselho Restrito do Conselho Municipal da RMSE: Miguel Barata de Almeida (Presidente do ESC), Pedro Bicudo (Presidente da SOS – Salvem o Surf), Tiago Matos (Presidente da Associação dos Amigos da Baía dos Coxos) e Pedro do Carmo Silva (Vereador da Câmara Municipal de Mafra), aos quais se juntaram Juanma Murua, da Murua Consulting, e o moderador Miguel Pedreira, que extraiu interessantes declarações por parte dos intervenientes.
Entre outras posições, Miguel Barata de Almeida considerou que os números do estudo apresentado devem ser encarados de frente e com coragem, apontando a necessidade de criação dum Observatório da RMSE e destacando o aumento de atletas do ESC e de participantes nos campeonatos organizados pelo clube.
Por seu turno, Tiago Matos preferiu priorizar a fragilidade e respeito pela natureza sentida pelos surfistas em face do interesse no desenvolvimento característico doutros stakeholders. Este dirigente associativo relembrou também, a necessidade de protecção legal para haver uma efectiva preservação da RMSE, passo para o qual é imprescindível a existência de vontade política por parte dos responsáveis.
Respondendo às preocupações de Tiago Matos, Pedro Carmo Silva, considerou que o ponto de equilíbrio (nomeadamente entre o desenvolvimento económico e a preservação ambiental) é o mais difícil de atingir mas que alguns passos importantes já foram dados nesse sentido.
Pedro Bicudo destacou a enorme pressão existente sobre o bem escasso que são as ondas, numa época de tanta apetência pela prática do surf. Nas suas palavras, “a RMSE pode ser suspensa, mas se os seus agentes quiserem podem torná-la a melhor do mundo” – a opção por um ou outro caminho encontra-se apenas dependente das escolhas tomadas pelos responsáveis.
Já para Juanma Murua é preciso trabalho para tirar partido das conclusões do estudo e torná-lo uma ferramenta que possa contribuir para uma maior sustentabilidade da RMSE, sendo necessária uma maior partilha e colaboração entre os agentes responsáveis pela Reserva.
Findo o painel, Miguel Barata de Almeida encerrou o EWSR+10, destacando alguns dos momentos-chave deste projecto, afirmando as necessidades de cativar os mais jovens para se envolverem na salvaguarda da RMSE e de se constituir uma figura jurídica de protecção para a Reserva, para mais numa época de tanta pressão imobiliária. O Presidente do ESC revelou ainda a possibilidade de trazer o museu do surf para a Ericeira, concluindo esta sua intervenção com um desejo: “que o Ericeira WSR+10 seja o princípio e não o fim!”
O Presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder Sousa Silva, fez de seguida a ponte com o Ministro do Mar, destacando que a responsabilidade pela RMSE deve ser partilhada por todos os agentes envolvidos e considerando que o EWSR+10 permitiu unir e mobilizar a comunidade. O edil mafrense partilhou também que o “Guarda ou Guardião permanente da Reserva” anunciado na conferência inaugural do EWSR+10 já se encontra no terreno desde o início de 2022.
Tal como sucedera na intervenção Maria da Graça Carvalho, o Ministro do Mar não deixou passar a oportunidade de referir o ataque militar da Rússia à Ucrânia, num dia muito triste para a Europa. Ricardo Serrão Santos, que havia visitado recentemente a RMSE, destacou a importância da Reserva e das características imanentes ao surf, que tem sido um nicho cada vez mais relevante no turismo costeiro de Portugal, reconhecido nomeadamente pela Estratégia Nacional para o Mar 2021-2030.
A Reserva Mundial de Surf da Ericeira é a única existente no continente europeu, integrando uma rede global sob a tutela da Save the Waves Coalition, associação internacional que criou este programa com o objectivo de preservar e promover regiões costeiras com ondas de qualidade ímpar – na Ericeira trata-se duma faixa costeira de 13 quilómetros que inclui sete ondas de características únicas (Pedra Branca, Reef, Ribeira d’Ilhas, Cave, Crazy Left, Coxos e São Lourenço), as respectivas paisagens e ecossistemas. As entidades Guardiãs da RMSE são a Câmara Municipal de Mafra, o Ericeira Surf Clube, a Associação dos Amigos da Baía dos Coxos e a SOS – Salvem o Surf.
O Ericeira WSR+10 foi promovido pelo Ericeira Surf Clube e financiado pela Comissão Europeia, contando com o apoio do Município de Mafra.
Todas as informações relevantes sobre o Ericeira WSR+10 podem ser consultadas online, no site oficial do evento e nas respectivas redes sociais.
O Ericeira WSR+10 contou com o apoio da Fonte Viva, Açai Native e Matadouro Beach Bar, bem como a divulgação dos seguintes Media Partners: Antena 1, Fuel TV, Visão, Beachcam, SurfTotal, Vert, SurfZine, Mafra TV, Rádio do Concelho de Mafra, O Carrihão, AZUL – Ericeira Mag e O Ericeira.