A notícia publicada nesta semana, dando conta de um aumento do número de utentes que estão a faltar sem aviso prévio a vacinas agendadas, só nos pode deixar preocupados. É importante que todos percebam - e se essa mensagem não está a passar deve ser reforçada por quem tem competências na matéria - que a pandemia de covid-19 ainda não acabou, e que dos comportamentos individuais dependerá em grande medida o nosso sucesso coletivo nesta "guerra" que já dura há mais de ano e meio.
Agendar um ato de vacinação e depois não comparecer, nem avisar atempadamente, não significa apenas ficar desprotegido perante um vírus que continua a circular, que continua a fazer vítimas e a motivar hospitalizações. Significa também desperdiçar o tempo de profissionais de saúde que estão a trabalhar em contrarrelógio para assegurarem a imunização da população e, provavelmente, desperdiçar uma vacina que poderia ter ido para outra pessoa.
É claro que existem imprevistos de última hora, mas quando ouvimos, por exemplo, autarcas referirem um aumento substancial de ausências num dia de jogo de futebol da seleção, só podemos concluir que para alguns cidadãos o sentido de prioridades está baralhado. Perante isto, mais do que apontar o dedo a quem falta às vacinas ou a quem se recusa mesmo a agendá-las, é importante informar e sensibilizar.
Em muitos países, e também, em menor escala, em alguns concelhos de Portugal, não apenas se tem investido fortemente em campanhas de apelo à vacinação como, em alguns casos, se chega ao ponto de premiar quem o faz. Ainda nesta segunda-feira foi noticiado que o primeiro-ministro grego decidiu atribuir um vale de 150 euros, utilizável em viagens ou atividades culturais, a todos os jovens dos 18 aos 25 anos que se vacinem.
Há quem critique estas medidas, por considerar que as vacinas em si mesmas já deveriam ser estímulo suficiente. Pessoalmente, sou favorável a todos os atos que sirvam para criar um sentimento positivo em torno da vacinação. Até porque não têm faltado "iniciativas" em sentido oposto, assentes na desinformação e no medo.
A generalidade dos argumentos antivacinas, mesmo pondo de lado teorias de conspiração que nem merecem que se perca tempo a falar delas, assentam em interpretações erradas ou deturpadas dos factos.
Por exemplo, acreditar que já não se precisa de ser imunizado, porque muita gente já recebeu a vacina. A imunidade de grupo é uma meta, mas a percentagem da população que é necessária para a garantir varia em função da doença e das suas mutações. Em relação à variante Delta do coronavírus, alguns especialistas apontam para a necessidade de chegar pelo menos aos 85% de imunização. Ainda estamos muito distantes. Precisamos de todos para lá chegarmos. E não podemos esquecer que há quem, por motivos de saúde, não pode sequer ser vacinado. Esses, sim, dependem do grupo para a sua proteção.
Há também quem diga que recusa a vacina por não confiar na sua eficácia contra as últimas mutações do vírus, preferindo esperar por outras mais atualizadas. Este é o exemplo clássico de comportamento que pode conduzir exatamente àquilo que se receia que aconteça. As vacinas disponíveis estão a ser eficazes na proteção contra a variante Delta, como já confirmou o líder da task force da vacinação no nosso país. Contudo, quanto mais cidadãos desprotegidos existirem - em Portugal e no mundo -, mais probabilidades tem o vírus de se replicar e de ter mutações para as quais poderemos não estar preparados.
Recusar uma vacina é um direito, mas desengane-se quem pensa que é uma mera decisão individual. Não é um ato inócuo. Afeta os outros. Ser vacinado, por outro lado, não é apenas protegermo-nos a nós próprios. É proteger a comunidade.