Olho para a guerra na Ucrânia e vejo extraordinários exemplos de coragem. Mas não apenas dos homens que sobem para cima de tanques inimigos com a bandeira azul e amarela ou lutam, metro a metro, pela defesa da sua independência.
Vejo também a idosa russa Yelena Osipova, sobrevivente do cerco de Leninegrado, a ser presa em São Petersburgo por protestar contra a guerra e exigir o fim das armas nucleares. E vejo mulheres ucranianas a aproveitarem intervalos entre bombardeamentos para construírem barricadas nas ruas de Kiev e também, no limite, a pegarem em armas. Mas sobretudo mulheres a cuidarem de crianças, velhos, feridos e doentes. O derradeiro "escudo humano" contra a agressão de Putin, de que nos falou ontem, no Parlamento Europeu, a escritora ucraniana Oksana Zabuzho, por ocasião do Dia Internacional da Mulher.
Não me considero uma feminista. Mas pergunto-me se uma mulher, presidente da Federação Russa, teria ordenado este ataque. Se o manteria quando já eram evidentes as consequências trágicas para a população do país invadido. Se não procuraria outras soluções, por mais convicta que estivesse dos seus argumentos. Se, pelo menos, as coisas não poderiam ter sido diferentes se naquele núcleo duro que aconselha Putin existisse maior diversidade. Nomeadamente de género. Um outro olhar sobre os problemas.
E pergunto-me ainda, com toda a admiração que tenho pela coragem e a liderança do presidente Zelensky, se uma presidente ucraniana teria decidido que apenas uma parte da sua população civil poderia procurar refúgio para lá das fronteiras, porque outra parte teria de ficar e lutar, mesmo se completamente impreparada, mesmo se a ideia de pegar em armas lhe parecesse inconcebível.
Quando falamos em questões de género, é frequente ouvirmos quem defenda que os homens e as mulheres não são iguais em tudo, que têm algumas características distintas. E em certa medida isso é verdade. Mas esse é apenas mais um argumento a favor da igualdade. Precisamente devido a essa diversidade, o equilíbrio dos géneros em todos os setores, incluindo nas lideranças políticas, militares e empresariais, faria do mundo um sítio melhor e mais seguro para todos. Não apenas para as mulheres.
Nesta quarta-feira, em Estrasburgo, teremos uma importante reunião de trabalho entre relatoras e relatoras-sombra, pelas comissões dos Assuntos Jurídicos (JURI) e dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros (FEMM), sobre a diretiva Woman on Boards, relativa à participação das mulheres nos conselhos de administração. Participo na qualidade de relatora-sombra pelo Partido Popular Europeu, na FEMM, e parto para este encontro com o otimismo de finalmente ver aproximar-se o fim de uma batalha que se arrasta há anos.
Com o recente apoio da Alemanha, o Conselho da União Europeia deixará de ter a minoria de bloqueio que há muito tempo vinha impedindo a adoção desta diretiva, já a ser implementada por vários Estados-membros, nomeadamente Portugal. O que está em causa é, apenas e só, criar condições para que, pelo menos nos cargos não executivos, as administrações das empresas reflitam aquela que é a realidade dos seus quadros de recursos humanos - ou seja: o equilíbrio.
Acredito - e não me baseio apenas em intuição, mas em diversos estudos já realizados em empresas onde a representatividade das mulheres nas lideranças é elevada - que sairemos todos a ganhar, na Europa, com este passo. Tal como ganharemos com uma maior representação das mulheres nas lideranças das academias, dos centros de investigação e nos cargos públicos.
Mais uma vez, não é feminismo, é humanismo. Não é pelas mulheres. É por todos nós. Os homens, sozinhos, não fazem um trabalho muito bom a governar o mundo. E sabemos isso porque andam há milénios a tentá-lo.